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Ivaldo Lemos Junior
Procurador de justiça do MPDFT

A comunidade italiana de Nova Iorque no começo do século XX era pobre, os empregos eram escassos, vários fizeram “speakeasies” (pontos clandestinos que vendiam bebidas espirituosas durante a lei seca) de suas cabeças-de-porco, e tudo se agravou com a Grande Depressão. E havia o Don Fanucci.

Este era um “mano nera”, um escroque que infernizava a vida das pessoas. Extorquia descaradamente em troca de “proteção”, que consistia basicamente no dilema ou você me obedece ou perdeu-mané. Ninguém mais suportava as arbitrariedades desse tiranete, que já tinha ido longe demais, o problema estava exposto há muito tempo, mas não aparecia a solução. Até que um dia ele se mete com a pessoa errada: Vito Corleone, um jovem honesto, que perde o trabalho em uma mercearia para um sobrinho do crápula.

Vito acaba se envolvendo devagar, e meio sem querer, no mundo dos roubos, Fanucci descobre e passa a achacá-lo. Inteligente, o rapaz percebe que o patife não era tão poderoso assim, pois ameaçou chamar a polícia se não fosse pago. Um bandido de verdade jamais faria isso, ele tem sua polícia particular (cada Solozzo tem o McCluskey que merece). Vito mata Fanucci, é um alívio geral, todos acabam sabendo e as autoridades não se empenham muito em investigar.

E aqui acontece a virada: Vito passa a ser o macho alfa, mas não o novo Fanucci. Ele reforma o sentido da palavra “proteção” e ajuda viúvas e outros mais que o procuram para tirar alguém da cadeia, emprestar dinheiro, negociar com senhorios, pedir conselhos. O livro de Puzo esclarece que ele auxiliava a todos, de boa vontade, como um ato de amizade que poderia ou não ser retribuído no futuro. Assim se torna uma força financeira e política.

Fanucci era um calhorda e um estúpido. Se não morresse por Vito, morreria como Zé Pequeno da Cidade de Deus, nas mãos de moleques que o eliminam às gargalhadas.

Jornal de Brasília - 4/9/2024

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