Ivaldo Lemos Junior
Procurador de justiça do MPDFT
Uma diferença entre o filme e o livro “O poderoso chefão” é que, naquele, quando volta para os EUA, Michael Corleone procurou a antiga noiva, Kay Adams, que, em meio a suas atividades como professora primária, espantou-se com a visita. Na obra de Mario Puzo, ela ligou para a mãe dele, que disse que Michael tinha voltado 6 meses antes, falou para ela pegar um táxi e encontrá-lo; portanto, a surpresa foi dele. No reencontro, eles tiveram uma conversa semifranca sobre as razões de Michael ter deixado o país repentinamente, suspeito que era de um homicídio duplo.
Ele, de fato, era culpado, mas houve arranjo para que assumisse os delitos, mediante ótimo pagamento, um tal de Felix Bocchicchio, que nada tinha a perder pois aguardava pena de morte por outros crimes. Com isso, Michael se livrou das garras da lei, mas as garras de Kay eram outras, as do amor. Ela disse que nunca acreditou que ele fosse o assassino, mas “não se importava se ele fosse um gângster” e sim que ele não gostasse dela, pois não a procurou após seu retorno.
Michael avisou que agora trabalhava para a família, no ramo de azeite de oliva, e não poderia dar muitas explicações. E afirmou o seguinte sobre o pai: “ele não aceita as regras da sociedade porque elas não são adequadas para um homem como ele, de força e caráter extraordinários”. O pai se considerava igual a “grandes homens” como “Presidentes, Primeiros Ministros, Juízes do Supremo e Governadores de Estados”.
Kay não caiu muito nessa conversa. Afinal, a função dos agentes governamentais e juízes não é justamente a de seguir as regras oficiais? Não devem ser os primeiros a dar o exemplo? Em outro filme, “Motherless Brooklyn”, o detetive pergunta ao mega empreendedor se este estava acima da lei, e ele responde: “não, estou na frente dela”. A lei muda em função dos homens extraordinários, bons ou maus.
Jornal de Brasília - 18/12/2024
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