Ivaldo Lemos Junior
Procurador de Justiça do MPDFT
Um candidato a Presidente da República sofreu uma facada na barriga em meio a um comício, quando multidão aglomerava em tomo de si, em clima de euforia, e o carregava nos ombros. O golpe não foi fatal mas poderia ter sido, a região atingida era delicada, as lesões causaram sequelas. Muitas pessoas não gostavam e não gostam desse candidato e até se regozijaram com seu infortúnio. Houve quem colocasse em dúvida a veracidade do episódio e mesmo afirmasse que não passou de uma farsa porque não jorrou. Cadê o sangue?
Esse tipo de ocasião é uma oportunidade para se fazer um balanço e relembrar que política não é guerra, muito menos guerra sem regras, sem limites, em que vale tudo, inclusive eliminar o rival e colher o pleito do chão com tranquilidade e alívio. Pelo menos idealmente, em um sentido mais nobre, mais elevado e até mais bonito, política é o território da facada das ideias, dos projetos, de ações inteligentes, conservadoras ou inovadoras, que beneficiarão o povo, na economia, nos viadutos, no saneamento básico. Como poderá alguém falar de segurança pública e saúde se aprovou a estocada em alguém que, muito antes de ser um adversário, é um ser humano?
O próprio questionamento do golpe já tem algo de revelador. É dado suspeitar que a vítima não é amante da verdade e seria capaz de participar de uma fraude, ainda que um mar de populares estivesse presente, cada passo fosse registrado e o agressor fosse pilhado em flagrante. Mas e as equipes médicas? No caso, de dois hospitais de duas cidades diferentes? Tais profissionais também precisariam estar envolvidos, prestando informações e coonestando boletins mentirosos; foram semanas de internação. Não há como impulsionar conceitos morais se estes já vêm contaminados por uma epistemologia torta, deturpada e até doentia. Política pode sim ser uma espécie de transtorno mental.
Jornal de Brasília - 31/12/2024
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