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Ivaldo Lemos Junior
Procurador de Justiça do MPDFT

Travis Bickle é um veterano de guerra que mora em Nova Iorque e não tem nada nem ninguém. Dado o seu completo isolamento, malgrado o oceano de gente a seu redor, ele arranja trabalho de chofer de praça. Seu objetivo é se ocupar, fazer alguma coisa, tanto faz quem transporta, quando ou para onde. Como constou em O navio negreiro, “Donde vem? Onde vai? Das naus errantes. Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?”.

Na calada da noite, Travis vê de camarote a degradação de seu meio e os personagens que desfilam pelas ruas, podres e lazarentos: prostitutas, proxenetas, tarados, traficantes, ladrões. Acontece que ele se considera acima e não no mesmo nível de seu ambiente, embora contribua para a sua manutenção ao conduzir os mesmos seres que despreza e, no final do turno, ainda tem de limpar as secreções deixadas no banco de trás do automóvel.

Portanto, Travis se atrapalha no diagnóstico e ainda mais no tratamento, e o que era um “fazer alguma coisa” em sua vida, algo banal como espantar o fantasma da insônia e quem sabe construir uma relação particular sadia, passa a ser um projeto mais grandioso de salvação. A missão se mostra um tanto aleatória. Também aqui não faz muita diferença se seu alvo é a loira linda que conhece de vista e que acha que sofre do mesmo vazio existencial que ele – como se dois vácuos que se encontram romanticamente pudessem produzir um cheio –, a loirinha que está escravizada pelo açúcar da droga, de seu rufião e de homens que a tratam como uma guimba de cigarro, ou um lojista assaltado por um pobre diabo.

E ainda há um detalhe. Travis cogita matar um candidato a presidente. Políticos são representantes do povo e há um abismo entre representação e vontade própria. A tarefa salvífica de Travis exige ação direta e cruenta, o que é até viável. O que não é viável é transformar o inferno em purgatório.

Jornal de Brasília - 15/1/2025

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