Ivaldo Lemos Junior
Procurador de justiça do MPDFT
O filme “De olhos bem fechados” trata do tema do ciúme. Os protagonistas são o casal Harford, Bill e Alice. Ele tem tudo: é jovem, bonito, educado, elegante, médico de sucesso, sorriso e cabelo tão fabulosos quanto seu apartamento em Nova Iorque. Ela também é linda, a filha em comum é linda, tudo é lindo, tudo é maravilhoso.
Matrimônio, na perspectiva da estratégia reprodutiva, isto é, em uma dimensão histórica sofisticada pelo direito de família (e pelo direito penal), é o desejo de que a sociedade acolha como legítima a intimidade entre os nubentes. Nem todo o mundo se animaria a prestigiar uma celebração pseudo-legal ou francamente ilegal, e.g., envolvendo pais e filhos, avós e netos, irmãos ou pessoas já casadas (confiram o artigo 1.521 do Código Civil). Há por aí rumores de contubérnio com animais, bonecos, grupos ou consigo mesmo. Pouca novidade: na mitologia grega, Pigmalião esculpiu a estátua de Galateia, apaixonou-se por ela e pediu sua mão.
Bill e Alice vão a uma festa grã-fina e, dadas suas atratividades, são alvos de sedução por quem que não se preocupa com a exclusividade entre ambos e também quer tirar algum proveito. Quando voltam para casa, Alice revela que conheceu um sujeito em uma viagem, só de vista, nem chegaram a conversar, e com ele fugiria e deixaria tudo para trás, tudo. Bill nunca tinha sentido ciúmes dela mas essa estória o abala. Tem pensamentos intrusivos da mulher com o tal estranho, envenenando sua estabilidade mental em uma noitada longa em que se dá o direito temerário de se vingar.
Uma pesquisa mostrou que as fantasias mais comuns das mulheres são com bilionários, lobisomens, vampiros, piratas e cirurgiões. Basicamente, homens com muita força potencial mas com espaço para serem melhorados por elas. Talvez Bill fosse perfeito demais para Alice. Talvez o artigo 1.521 seja revogado um dia.
Jornal de Brasília - 12/3/2025
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