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Ivaldo Lemos Junior
Procurador de justiça do MPDFT

Se você buscar na internet o nome Roland Freisler, verá que foi um jurista do III Reich. Mais exatamente, juiz do Tribunal do Povo (VGH) em Berlim, cuja competência era apreciar delitos políticos como alta traição. Há uma fotografia de Sua Excelência, em alguma sessão forense, fazendo a saudação nazista, o braço direito esticado. Atrás dele, um estandarte exibe uma suástica e um busto do Führer (que ele chamava de “nosso amado Führer”), em tamanho natural, ou melhor, com o rosto ainda maior do que a do magistrado, reinventando o apotegma de que “cada cabeça, uma sentença”. Também há dois camaradas de cada lado de Freisler. À esquerda, um homem está fantasiado de juiz e o da direita traja uniforme militar; ambos também estão firmes na saudação e num provável e animado Heil Hitler!.

Na toga vermelha de Freisler, dá para ver claramente um broche com a águia estilizada que se tornou o emblema nacional. Então a marca de um partido (a suástica) e o símbolo oficial do Estado (a águia) se misturaram como se fossem uma coisa só. O próprio conceito de “povo” era um ingrediente dessa emulsão.

Os juízes não eram discretamente nazistas; a coisa era escancarada, do tipo “nós derrotamos a República de Weimar”! Aqueles que não se alinharam ao governo foram expurgados ou enviados para campos de concentração. Quem ficou foi por ideologia sincera ou pavor de perder o emprego. De um jeito ou de outro, a missão dada era usar a lei para esmagar os réus, humilhando-os e varrendo-os para a guilhotina com máxima urgência. Missão cumprida: mais de 2.200 sucumbiram ali.

Nessas horas, o país precisa achar forças para barrar as atrocidades de seus poderosos ou vai precisar de ajuda externa. Os EUA bombardearam o Tribunal, encerrando para sempre a carreira de Freisler. Perdoem-me a sinceridade funesta, mas foi um favor que fizeram para a Alemanha.

Jornal de Brasília - 26/3/2025

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