Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
Todos nós vivemos fazendo escolhas, e não só os mesmos "todos nós" dotados daquela inteligência típica dos seres humanos modernos, que é racional, religiosa, científica e jurídica.
Mesmo os animais inferiores, ainda que de modo precário (ou seja, mais por intuição do que por cálculo, mais por genética do que por aprendizado), fazem opções. É claro que tais seres vivem cercados de perigos que não gostariam de enfrentar, porque dificilmente teriam chances contra o assédio tantas vezes mortífero dos inimigos -- embora existam curiosíssimos casos na direção contrária.
É que eles vivem "alterados", no sentido etimológico: vivem em função do "alter", tiranizados pelos outros. "O animal não rege a sua existência, não vive a partir de si mesmo" (Ortega y Gasset), e presta mais atenção ao que se passa no meio ambiente em vez da perdição em viagens introspectivas e ensimesmadas.
O cão não é um excelente exemplo, por ser um bicho "sui generis", completamente domesticado e incrivelmente antropomórfico; já disseram que cachorro também é gente, e muitos, mas muitos mesmo, concordam com isso. Ainda assim, ele se revela. Mostra-se agitado quando chega alguém. Passada a excitação, cai em profunda modorra (às vezes com as quatro patas para cima), mas imediatamente se levanta e se põe a correr e a latir assim que apertam a campainha.
Nem sempre as escolhas são feitas (agora por nós) diante de um quadro bem definido, em que os problemas estão colocados com clareza, as possibilidades estão todas na mesa, bem como os meios, e dá para se avaliar com calma e precisão riscos e conseqüências. E ainda: quase nunca é viável se arrepender e voltar atrás, de preferência sem deixar vestígios.
Quem dera se os dilemas morais fossem tão prosaicos como o entre casar e comprar uma moto. Essa é fácil.
Jornal de Brasília