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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

Pode ser que o cidadão comum tenha uma impressão um tanto desagradável do ambiente forense. O que existe no imaginário popular é um conjunto rico em questões exemplares, em termos de linguagem, cerimônia, etiqueta, rito, roupa. O retrato três por quatro que o senso comum tirou do jurídico revelou um juiz com capa preta e martelo na mão, no comando de um ambiente autoritário, incompreensível e hostil.

Existe também o lado glamouroso, associado a casos intrigantes e sedutores, mas que foi urdido pelo cinema e seus atores famosos e bonitos. A substancial parte do trabalho real é de uma monotonia com a qual o profissional não tem nenhum motivo para se envolver emocionalmente, a não ser no sentido da repetição aborrecida e burocrática. Sinto muito.

Mas o primeiro dos aspectos, que é o que interessa aqui, pega de surpresa e assusta até mesmo observadores mais treinados. Não parece ser de um exagero absurdo comparar um magistrado a um hierofante. Podem reparar: as salas de julgamentos dos tribunais são autênticos proscênios.

Do silêncio penumbral, os julgadores podem ser contemplados pelo vulgo, muito mais no nível espetacular do que acessível e dialógico. Além de distribuir jurisdição, é evidente o escopo de comunicação social, mais exatamente, manifestação de poder. Por isso se disputa quem vai estar mais próximo de sua poltrona.

O fenômeno, no entanto, não é apanágio do direito (cujo requinte de solenidade é até certo ponto necessário), e sim da reafirmação do homem moderno diante da hereditariedade de legados mitológicos espalhados por toda a parte, tanto na vida pública quanto na moralidade privada.

Isso se verifica desde os gestos mais banais e inconscientes, como o de entortar o corpo quando se joga boliche - como se a força do desejo pudesse alterar a trajetória da bola e derrubar os pinos -, até em momentos mais rebuscados, em que ressurge o anseio de transcender a própria época, pessoal e histórica, e de mergulhar num tempo estranho, extático ou imaginário.

Jornal de Brasília

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