Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça
Todas as verdades científicas partem de fatos relativamente abstratos - porque colecionados por amostragem e coados em um emaranhado filtro por onde percolaram desde as inevitáveis deficiências cognitivas dos seres humanos até a cretina falta de recursos financeiros das pesquisas - e conduzem a resultados relativamente precários, que podem e devem ser superados por estudos mais completos, mais profundos e com tecnologia mais avançada.
O ponto de partida da ciência não são dados disponíveis na natureza ou nos laboratórios climatizados, mas supostos construídos nas cabeças dos cientistas: e mais, supostos imaginários e inexplicáveis. O físico e filósofo Sir Karl Popper explica que "por mais intenso que seja um sentimento de convicção, ele jamais pode justificar um enunciado".
Se toda a convicção do mundo pode fazer a dúvida soar como absurda, o fato também é que o verdadeiro cientista deve duvidar de seu próprio trabalho, e o pôr à prova, em vez de defendê-lo dogmaticamente com os chamados "argumentos ad hoc", quando não com insultos puros e simples ou por motivações financeiras.
É na base da imaginação de que realmente exista algo - por exemplo, a órbita de um corpo celeste ou a precisa distância entre um e outro planeta -- que os cientistas procuram explicar suas observações. Os testes e contra-testes são eles mesmos fatos objetivos a comprovar ou derrubar supostos não-objetivos, e o resultado final do trabalho se consolida em uma tese ou teoria, que será péssima ou ótima, a depender do nível de sucesso.
A astronomia é, por sinal, um terreno particular muito esclarecedor da atividade científica como um todo, pois é impossível se manipular literalmente o objeto de pesquisa (astros, galáxias etc.), mas apenas em escalas artificiais, regidas por fórmulas matemáticas e estatísticas remotíssimas. A fé na ficção reclamava uma dose ainda maior quando os telescópios e apetrechos tecnológicos eram demasiado rudimentares e muita coisa era feita na base do chute.
Jornal de Brasília