Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça
A manutenção do poder exige demonstrações inequívocas acerca da autoridade, que passam pela pompa das carruagens, palácios, seguranças etc. Mas o que faz a diferença são as pessoas que formam a base desse processo - o séquito de bajuladores -, agraciados com cargos e vantagens variadas (por ex.: cartões corporativos). Creio que pertence ao desejo de "vida de corte" até mesmo a prática de crimes, porque estes são cometidos em nome de uma potência ritualizada e mal reprimida de se provar que o autor é gente fina, que é amigo do rei.
Mas apenas ajudar os amigos não basta. O macho alfa precisa proporcionar um mínimo de paz e estabilidade, porque a definição da ordem hierárquica, seja como for, traz alguma dose de segurança, o que é positivo para todos.
Arma-se o cargo de macho alfa como uma armadilha metafísica, na qual caíram - em retrospecto, mas caíram - ditadores em geral, Hitler na vanguarda dessa fila hedionda. Para alcançar a idéia do Bem, Platão acreditava que se devia escolher "o caminho mais longo"; nós preferimos pegar um atalho na direção de um zoológico empoeirado e horroroso, onde gostamos de fazer zombarias e nos sentir superiores.
É variado o grau de exigência cobrado pelas massas, mas a "proteção" passa por regalias concedidas a mulheres, crianças e adolescentes e, em uma estratégia mais ou menos astuta, a fracos e oprimidos em geral, ditos "hipossuficientes". O líder procura se comportar não como uma pessoa que chegou ao poder para se manter e tirar proveitos, e sim como um árbitro sábio, que equilibra a balança das desigualdades sociais.
Juridicamente, a limitação do poder se chama "constituição". Sociologicamente, a atração ou repulsa (carismática, conciliatória, oratória e até de "sex appeal") provocada pelo líder será decisiva. Politicamente, a consumação do poder é a obediência resignada, o cumprimento voluntário diante da ordem das bicadas estabelecida em nome da chamada "vontade geral", "interesse público" ou "bem comum".
Jornal de Brasília