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Rose Meire Cyrillo e Elisabete Amarante
Promotora de Justiça do MPDFT e Juíza de Direito do TJDFT

É bom trabalhar em parceria ....quando você se identifica com o outro...só de olhar você já sabe o que a outra pessoa está pensando e como irá se posicionar naquele caso concreto.

Justiça não é só aplicar a Lei, é muito mais: é compreender a ‘ dor’ do outro e tentar resolver o conflito para que as partes não mais busquem o Poder Judiciário para resolver toda uma vida. Pense, confiar sua vida, seus maiores segredos, patrimônio, liberdade a alguém que mal se conhece… Esse alguém tem que ser especial, tem que ser uma pessoa capaz de se despir de todos os seus pré-conceitos e colocar-se no lugar do outro. Não é fácil ser um julgador e ter de julgar a dor dos outros em detrimento da sua própria....

É nessa hora que a integração entre os operadores do direito se faz necessária, senão vital, para a efetividade da jurisdição a ser prestada...afinal, o fim que se busca é um só: a justiça. Essa ‘cumplicidade’ revela-se, então, salutar, ao contrário do que pensam muitos....

Essa ideia equivocada de ‘cada um no seu quadrado’, brigando por uma parcela de poder é ultrapassada e nada proveitosa para o jurisdicionado, nem para as próprias Instituições envolvidas. Quando há confiança na integridade do outro, o trabalho em conjunto passa a ser prazeroso; quando se está disposto a aprender com o outro ganha- se um amigo, no mínimo...um novo olhar sobre a vida, sobre suas próprias limitações. Acreditem, há pessoas que passam uma vida toda sem olhar o outro de frente, com medo do que sentem e se contentam com as sombras, reflexos que mentem.

Dizem que nada nunca perdura, se boa ou má situação. A dor, pela própria acepção da palavra, ao ser sentida sempre é considerada ocorrente no decorrer de uma situação em que, nós humanos, sentimo-nos fragilizados, vulneráveis, sensíveis. Sentir a dor do outro, como operadores do direito, é tentar entender o contexto na qual a dor se sustenta, se é de renascimento do que até então perdura, se é de partida daquilo do qual não se quer mais, se é de luta para manter – se na dor. Ou tantas outras ‘dores’ daqueles que estão no mundo. Feliz o operador que, na medida em que percebe a dor do outro, percebe que por ela já passou e na passagem sentiu todo a sua intensidade. Feliz, sim, porque somente deste modo pode, julgando a causa, constituir ou declarar uma situação nova, situação esta que vem para renascer daquilo que prende, partir daquilo que não se quer ou não se ama mais, de abater aquela luta daqueles que mantém – se na dor para não suportar outra dor, que acreditam ser maior que a já sentida. É desfazer, tirar o nó, vir a reboque daquilo que se pensa ser maior, maior do que tudo o que nos cerca: escolher a vida, não a dor.

Site Clube Jurídico do Brasil

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