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Rose Meire Cyrillo e Elisabete Amarante 
Promotora de Justiça do MPDFT e Juíza de Direito do TJDFT


O amor já foi objeto de tantas elucubrações, poemas, livros, artigos, sessões de análise, tantos outros meios e furunculações - vem de furúnculo - que aqui fala - se sobre a redundância, do redundante.

Em sua maioria, quando se discorre sobre o amor fala - se daquele envolvendo dois seres, os quais, com os corpos e as almas unem - se num só propósito, senti - lo em toda a sua cristalina completude e, do seu término acaba - se por desvincular os dois seres em sua pretensa digna trajetória.

Chega - se à Justiça, então, não aquele amor, propósito de vida para alguns, mas o seu término, pelos desatinos dos que nele se envolveram, e, pelas desventuras do destino já traçado, estas últimas para os que assim crêem.

Aí a questão posta. Quando do desate do amor, vê - se que não se vai além do que não se pode ir. Não se vai além do que não dá mais. Estica - se a corda até não mais poder, e ela arrebenta tornando - se em pequenos cordõezinhos tão pequeninos...que não dá nem para aproveitar quaisquer deles.

Após isto, vem a dor, ela, também, objeto de tantas escritas e falas. De tantos dizeres em alcovas. Mas com a dor, há uma espécie de culpa, de arrependimento, do que poderia ter sido feito, e não o foi. Daí, também, a implicação é maior. Cola - se à auto - estima, ao ego, de tentar explicar o porquê não deu, o porquê o outro não quis resgatar o amor que um dia aconteceu. Vinicius falava que era chama, e durava enquanto a chama estava acesa, era eterno nesse tempo, depois extinguia - se com um sopro, dependendo da chama quase apagada, um mero e vã sopro.

Será o ato de amar a filosofia de querer ver o outro a essência do próprio ser? Pretendido assim, o amor seria travestido do sentir - se data marcada para findar - se, porque tentar - se assim, é impossibilitar o vínculo, ante a tão nítida e certa diferença entre os que supostamente amar - se - iam. Em alguns casos postos a análise dos operadores do direito, no que findo o amor, vê - se não terem os amantes a compaixão de ver no outro a finitude do sentir, vislumbra - se os rancores perversos para com o outro, passando a exigir - se, deste, nas entrelinhas do que dizem nos autos, a perversidade de exigir - se do outro o acervo do dispêndio gasto para com o outro - outro que um dia foi seu porto seguro. Externa - se a sensação de que houve perda de tempo, efemeridade de uma energia, consumida esta sem a devota compensação dada pelo outro ser, considerado algoz na falta sua de sensibilidade, ao deixar de amar aquele ao qual dedicou - se ao cultivo do amor, pensa - se ter ocorrido o desate daquele sentimento, que, insensatamente, pugnou por ser incondicional.

Há o outro lado da questão. Estendendo - se a outrem todo o seu olhar perscrutador, está - se diante de um distanciamento do querer ver a si. Quer - se ser de outrem, para não pertencer - se de si para consigo, não desejando ver - se a sua própria finitude. Instala - se, aí, a simbiose de ser o outro sem sê - lo a si próprio, de si para consigo. Deseja - se a eternidade, ao sentir um amor, considerado insensatamente, de per si, incondicional.

Ao sentir - se pela primeira vez o amor em toda a sua completude, ele, fenecendo, não consegue - se o seu desfazimento de pronto, como se, não tendo tido antes aquele poder de amar, não lhe será possível senti - lo novamente. Pensa - se que exauriu - se toda a capacidade de olhar outrem e dedicar - se a este, todo o amor, que uma vez sentiu - se, primeiramente.

Desfazendo - se o amor, de forma plena e contundente pensa - se que o ato deveria ser fato, mas nem sempre quando o amor acaba, esgotam-se as lágrimas, as dores, os dissabores de tamanha desventura....antes fosse. Enfim, na discórdia - embora não querida e proposta pelos que operam as dores dos outros - vê - se que ocorre uma certa "amnésia emocional" (inconsciente ou não), onde todos os bons momentos são apagados da memória. Aquele ser, outrora amigo e amante, ressurge como uma sombra saída das mais profundas regiões umbralinas, a atormentar com seu martírio de culpa. Não se tem, nas questões postas a idéia de que resta um amigo do outro lado do processo, parceiro de tantas empreitadas. Infelizmente para alguns ou felizmente para outros, o amigo, para o qual houve todo o encantamento do início da corte agora é toada fúnebre a acompanhar o sepulcro dos restos mortais do amor que se acabou.....Entre sussurros e lamentos, ouve-se alguém dizer: coitadinho, morreu tão cedo....foi de morte morrida ou matada.....ninguém merece tanta dor! Segue a vida, entre o desamor daquele sentimento morto ou a fenecer num átimo de tempo, e daquele outro que vai nascendo: o amor de se estar livre e disponível para si e para o mundo....

Há outra possibilidade, em alguns casos, até festejada. De repente, surge, por vezes, diante dos olhos de nós operadores do direito, uma esguelha de olhar ansioso por atar - se aos laços desatados. Desfazendo - se os nós, juntando - se os pequenos pedaços ainda existentes, deixando - se de lado aqueles nós que não mais se pode atar. Ocorre, conquanto não seja de fácil o seu surgimento, do amor, para o desamor, desta para a esperança de refazer o vínculo tão tardio foi de ir, tendo voltado num tempo de mais compaixão e temperança. É a natureza humana vindo a lume, tentando ser novamente do outro, e não mais de ninguém. Pensa - se o mais incauto - ‘ninguém é de ninguém' - assim pensando quão longínquo está do humano, que sempre, amando, quis ser de outrem. Agarra - se, então, ao que já findou - se, metamorfoseando - se o desamor em esperança no sentir - se novamente pelo outro o amor que um dia existiu na chama porventura que venha a ser outra vez acesa.

Lendo - se nos dizeres dos autos os desatinos do desamor, constata - se as desventuras de tantos, tem - se a sensação de que deste sentimento - o - mais desejado e perseguido - , não se tem outra opção do que continuar - se tentando o amar e o ser amado.

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