Newton Cezar Valcarenghi Teixeira
Promotor de Justiça do MPDFT

Nunca antes na história deste país legalidade, moralidade, publicidade, impessoalidade e eficiência foram tão desrespeitados. Com efeito, estas cinco palavras constituem verdadeiros princípios a orientar a administração estatal em todas as esferas e poderes, segundo o artigo 37 da Constituição Federal.

Consta que Calígula, Imperador Romano de 37d.c a 41d.c., incluiu seu cavalo, Incitatus, no rol dos Senadores. Suetônio, historiador de época, relata na obra "A vida dos doze Césares" que Calígula nutria especial predileção pelo referido quadrúpede. Narra que Incitatus dispunha de cerca de dezoito criados pessoais, ostentava um colar de gemas preciosas e dormia entre mantas púrpura, cor esta destinada exclusivamente aos trajes imperiais. Para sua honra foi erigida uma estátua de mármore em tamanho real e pedestal em marfim.

Não há notícia de que Incitatus tenha proposto ou sequer votado algum projeto de lei no Senado Romano. Por outro lado, é fato que não recebeu sestércios públicos e os escondeu entre as polainas; não trancou os portões de sua estrebaria para, na surdina, locupletar-se de recursos de origem duvidosa, tampouco amealhou contribuições de campanha não contabilizadas para presentear o povo com feno, capim e aveia; não há registro de que tenha custeado a viagem de alguma namorada para além do Rubicão às custas do erário; não promoveu, às expensas da fazenda pública, os estudos de algum assessor para aprender a arte de Dionízio em uma aldeia gaulesa, tampouco apontou a pata suja para outro parlamentar no calor de uma discussão envolvendo corrupção.

Como se pode perceber, Incitauts, com o perdão do trocadilho, não tinha o "rabo preso" e, em termos de observância ao artigo 37 da Constituição, faria inveja a muitos de seus pares que atualmente ocupam cargos públicos em nosso país. Com tantos predicados, se hoje vivo e elegível fosse, o candidato Incitatus perigava até ganhar a eleição...

Jornal de Brasília