Ivaldo Lemos Júnior
Promotor de Justiça do MPDFT
Nós, seres humanos, gostamos do novo. A novidade nos traz uma sentimentalidade vigorosa, um sopro de vida. Precisamos disso, mas também precisamos do eterno. Temos sede do eterno, temos fome do eterno.
Gostamos de ambientes que nos transportam para o clima das sensações que há muito e por muitos foram testadas e aprovadas, como bibliotecas de alto nível arquitetônico e decorativo (muita madeira, mármore, vitrais, estátuas de leões e águias, lemas em latim) e de acervo (milhões de volumes, clássicos, manuscritos raros).
Saber que por ali estiveram mentes das mais privilegiadas é, por si só, um convite para que o estudante se dedique a suas leituras, fazendo com que ele não se sinta apenas "mais um". Não é o que ocorre em bibliotecas sujas, desconfortáveis, pobres e barulhentas.
O mesmo se aplica a museus e igrejas. Estas têm de ser bonitas. Tanto melhor quanto mais luxuosas forem, com altares bem ornados, quadros e esculturas de grande qualidade estética, música de primeira qualidade. Já os mais visitados museus do mundo são justamente aqueles que emprestaram suas paredes ao que a arte pictórica tem de mais profundo e imemorial.
Por um lado, a moda nos atrai pela fantasia, pela dinâmica e até pela "iso-nomia" da intimidade. Por outro, o clássico nos convida a uma relação que, ironicamente, parece não precisar de nós. Parece que ele fala por si e o continuará fazendo independentemente de nossos caprichos fugazes. É como se ninguém tivesse o direito de dizer que os sonetos de Shakespeare ou os quadros de Rubens são medíocres.
Existe, pois, uma tensão entre os desafios do futuro e a estabilidade da tradição: ou entre o "amor de novos bens" e o "amor de bens adquiridos" (M. Reale). E um dos instrumentos culturais mais eficientes para tanto é o direito.
O direito é uma especificação, uma forma de tutela daquilo que as pessoas consideram valioso. O direito é uma tentativa de garantir a adequada movimentação pendular entre o que queremos e o que precisamos.
Jornal de Brasília