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Diógenes Antero Lourenço
Promotor de Justiça

Quando eu era estudante de direito tinha, como é normal, mais dúvidas do que certezas; mais problemas que soluções.

Acabei cursando direito por um acaso do destino. Na época, tinha plena convicção de que para progredir na vida precisava de cursar o nível superior. Era militar há muito tempo e a rotina de viagens, serviços e cursos "bagunçava" minha vida.

Terminei, então, o curso médio, e na seqüência fiz o vestibular para direito, logrando êxito.

Minha intenção, inicialmente, era cursar jornalismo ou comunicação. Não pude nem fazer o vestibular para esses cursos. Um deles era da Universidade Federal, somente durante o dia. Como trabalhava em horário integral, não havia horário disponível. O outro pertencia a uma universidade privada, com horário compatível, mas o preço era muito superior ao que podia pagar, já que não tinha um salário razoável para o alto custo de vida de Brasília.

A opção pelo direito, veio, portanto, pelos atalhos da vida. Pensava em aproveitar algumas matérias caso mudasse para os cursos pretendidos.

O início do curso, como era de se esperar, não foi de muita empolgação. Os dois primeiros semestres se arrastaram. Esse quadro de desânimo se modificou quando passei a ter contato com algumas matérias mais voltadas para os fatos do dia-a-dia. Passei a gostar tanto que, se antes estudava apenas para tirar a nota mínima, dali em diante passei a estudar pelo gosto. Lia vários livros em cada disciplina, além dos necessários. Logo, além das boas notas, colhi bons frutos: sendo o principal a aprovação em concursos. Saí do Poder Executivo para o Judiciário. A partir daí ficou mais fácil a caminhada.

Mas até sair da Aeronáutica, onde exercia o cargo de sargento com especialidade em manutenção de equipamentos eletrônicos, compatibilizar o horário (como disse era integral), os vários serviços extras ( os militares, além do expediente, fazem plantões – noturno e nos dias não-úteis), as infindáveis viagens (cursos de aperfeiçoamento e manutenção em localidade distantes da sede – normalmente destacamentos em locais de difícil acesso, alguns só se chegando de avião). Bem, quase tudo 'conspirava' contra os estudos.

Estudei na época em que o direito, em algumas faculdades, era cursado em quatro anos. Mas, por conta dessa intrincada 'guerra de horários', fui obrigado a trancar o curso por um ano. Formei com colegas que mal tive o convívio fora das salas de aula. Alguns só fiz uma ou duas disciplinas.

O transporte para a faculdade também tinha a dificuldade enfrentada por todo estudante sem recursos, principalmente em Brasília, onde a tarifa é alta e o serviço de baixíssima qualidade: saía do trabalho direto para a faculdade de ônibus, para economizar o valor da 'passagem' e ficava lá esperando por quase duas horas até a primeira aula começar, muitas vezes sem qualquer refeição. No final da última aula esperava debaixo de chuva e frio o ônibus passar, chegando em casa quase meia-noite. Quando, só então, podia fazer uma refeição, por mais básica que fosse e ir dormir logo para no dia seguinte acordar cedo e ir trabalhar.

Depois de muito trabalhar, consegui comprar um transporte. Não posso falar que era um carro, pois o fusca só tinha o essencial para me transportar no trajeto diário casa-trabalho-faculdade-casa.

Até hije relembro aqueles dias difíceis, nos quais mal tinha dinheiro para um lanche nos intervalos, agradecendo imensamente a dedicação dos professores que, com muito afinco e brilhantismo, souberam despertar em cada um de nós, estudantes, o desejo de contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, com os instrumentais que o direito dispõe.

Carta Forense

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