Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
Não é de hoje que se prega a negação da matéria, o que é feito não pelos metafísicos, mas pelos físicos. As descobertas da ciência moderna admitiram a revisão da ideia de matéria como algo posto no espaço, vale dizer, algo de fundamental ou substancial: uma essência não suscetível de ser objeto de maiores explicações e, assim, "um princípio em nome do qual qualquer outra coisa tinha de ser e poderia ser explicada", nas palavras de Karl Popper.
A ocupação do corpo no espaço era tida como uma interação causal com outros corpos, por impacto (chamada "ação por contato"), que acontecia mecanicamente. Essa era a visão do materialismo clássico, que foi ultrapassada por Newton, introdutor das noções de atração gravitacional, e não de empurrão, e de ação à distância em vez de ação por contato.
A concepção de essência continuou presente nas propriedades da matéria, o que foi revisto pela descoberta do elétron, que permitiu a divisão do átomo, indivisível por definição. Mesmo assim, algumas teorias teimaram em aceitar o fato -- o próprio Newton considerou absurdas as suas descobertas --, e buscaram se ajustar a ele.
O conhecimento da instabilidade e possibilidade de desintegração de partículas elementares impediu que estas fossem interpretadas como carregadas ou descarregadas de matéria. E mesmo que fossem estáveis, poderiam ser anuladas (produzindo fótons, quanta de luz) ou criadas (a partir de um raio gama).
Até as partículas mais estáveis, os núcleos, podem ser destruídas pela colisão com suas antipartículas, quando sua energia é então transformada em luz, convolando-se em energia altamente condensada. O resultado é que a luz é uma forma de energia mas não é matéria. "Portanto", explica Sir Karl, de quem tirei informações acima, "algo da natureza de um ‘processo', já que ela pode ser convertida em outros processos como a luz e, é claro, movimento e calor".
A conclusão é desconcertante: tudo seria aparência e não realidade fundamental. Mas como entender isso?
Jornal de Brasília