Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
Uma mania é uma fixação exagerada, doentia, ou ao menos relevante do nosso centro de atenção. Existem muitas - infinitas, na verdade - coisas que podem nos prender, nos interessar, nos agradar, nos incomodar. Esses verbos podem ser substituídos por fascinar, chocar, enojar, e muitos outros. O importante, no momento, é a atração que o objeto capta do sujeito, pelo simples fato de que não é possível se prestar atenção em tudo ao mesmo tempo.
Como isso se processa? Ora, não é com a atitude que se toma diante da coisa, com o que se faz consigo. Essa resposta é de uma magnitude racional, entendida como uma dialética intelectualmente englobante, fecunda em aspectos que se relacionam, e que implica a existência e o reconhecimento de variadas perspectivas. Por isso já se definiu a razão como a "apreensão da realidade em sua conexão", e quem o fez à guisa de um apotegma muito bonito foi um velho.
Não é nada disso. A mania é fruto de um sentimento. Ou, em uma análise mais profunda, mas nem por isso mais pobre em termos de compreensão, de um complicado amontoado de emoções. Por mais que estejamos sob o influxo de uma emoção difícil de ser interpretada, isso não significa que estejamos dentro do terreno da racionalidade. Não é à toa que o exemplo mais conhecido da mania é o do sujeito apaixonado, apalermado, "head over hills".
Assim é porque precisamos fazer escolhas, e precisamos fazê-lo a despeito do inadequado volume de informações, da premência do tempo, do fogo cruzado das pressões, de objetivos conflitantes, de uma projeção surpreendente ou imprevisível de efeitos. Tudo isso evita a tarefa antropologicamente inglória de sermos frios e calculistas, de tal modo que convém explorarmos o sentido original do objeto para o sujeito pela via do pathos. Só assim dizemos como Karl Jaspers: "por sermos, o objeto é". E só depois justificamos a nossa mania.
O leitor não tenha a mínima de que a mesmíssima coisa acontece com o direito, conforme explicarei oportunamente.
Jornal de Brasília