Seu navegador nao suporta javascript, mas isso nao afetara sua navegacao nesta pagina MPDFT - Empate técnico

MPDFT

Menu
<

Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

Quem é o maior intelectual da América do Sul - ou da América Latina, se preferir? Os candidatos são dois, e somente dois: Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa. Eles têm muitos aspectos em comum: são contemporâneos; são de países vizinhos; são escritores, que passearam com enorme competência pelos mais diferentes gêneros literários e jornalísticos. E ambos ganharam merecida fama pelo mundo inteiro, o que inclui o reconhecimento do cobiçado prêmio Nobel.

E ainda: ambos têm intensa atividade política. Vargas Llosa chegou a ser candidato à presidência da República de seu país, o Peru. Chegou mesmo a vencer no primeiro turno, mas no segundo o jogo virou a favor de seu oponente, um sujeito chamado Alberto Fujimori. Este, como todo político latino-americano que se preza, era demagogo, corrupto e, descendente de nipônicos que era, tinha cara de professor de matemática (até porque era mesmo professor de matemática).

O colombiano García Márquez não foi tão longe em seu engajamento político, mas é um notório esquerdista e amigo íntimo do regime e da pessoa de Fidel Castro. Das três características de Fujimori, apontadas no parágrafo acima, Fidel divide duas, mas não direi quais são.

É essa a diferença estatutária entre os dois: um é de direita, e o outro, de esquerda. Vargas Llosa é símbolo e prova de vida inteligente entre os conservadores políticos; García Marquez desempenha o mesmo papel entre os "progressistas".

As obras de ambos são julgadas amiúde com base na questão ideológica, ou seja, pela via do preconceito. Não é fácil para um direitista reconhecer que "Notícia de um sequestro" é um relato jornalístico escrito com talento incomum. Nada mais improvável que um esquerdista concorde que "Pantaleão e as visitadoras" é um dos livros mais hilariantes jamais escritos.

Até no gênero erótico, onde há um empate técnico, o impasse seria resolvido e dissolvido pela política: uns votariam em "Do amor e outros demônios"; outros escolheriam "Cadernos de Don Rigoberto".


Jornal de Brasilia

.: voltar :.