Seu navegador nao suporta javascript, mas isso nao afetara sua navegacao nesta pagina MPDFT - Cor de safira

MPDFT

Menu
<

Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

No dia 24 de outubro de 1914, o polonês Bronislaw Malinowski estava fazendo trabalho etnográfico nas Ilhas Trobriand (googlem) e anotou em seu diário de campo o seguinte: "a ilha é vulcânica, cercada de recifes de coral, sob um céu eternamente azul, e em meio a um mar cor de safira". Escreveu ainda, encantado, que, "para mim, a vida entre alamedas de palmeiras é um perpétuo feriado. Foi a impressão que tive ao olhar do navio. Tive uma sensação de alegria, liberdade, felicidade".

Mas não se engane com essa excitação paradisíaca, de êxtase diante da descoberta daquele cantinho no mundo do qual o sujeito não quer sair nunca mais. Isso não durou muito; na verdade, durou bem pouco. O autor de "Os Argonautas do Pacífico Sul" confessou que "depois de alguns dias dessa vida, eu já estava fugindo dela para a companhia dos esnobes londrinos de Thackeray, seguindo-os avidamente pelas ruas da cidade grande". E ainda: "desejei estar no Hyde Park, em Bloomsbury - chego a gostar de ver os anúncios dos jornais de Londres. Sou incapaz de me deixar absorver pelo meu trabalho, de aceitar meu cativeiro voluntário e tirar dele o melhor proveito".

A publicação póstuma do diário, pela viúva de Malinowski, causou uma tremenda confusão, por motivos que comentarei noutro dia. O que me intriga, por ora, é saber porque Hyde Park ou Bloomsbury, se ele era polonês e não inglês. Por que não sentia ele vontade de voltar ao campus da Universidade Jaguelônica (googlem) da sua Cracóvia natal? Por que não as torres e fortificações de Stare Miasto, que certamente conhecia muito bem?

Isso me parece o mesmo que um natural de Brasília deixar de suspirar pelo charme, digamos, da Galeria dos Estados, ou pela nostalgia irresistível daquele foguetinho do Parque Ana Lídia.

Mas não é só isso. Malinowski não preferia desfrutar da companhia de amigos, mas "seguir", e "avidamente", pessoas que aparentemente nem conhecia, no ambiente mais impessoal que pode existir: as ruas de uma cidade grande.

Jornal de Brasília

.: voltar :.