Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
O justo é mais do que uma ideia, um ideal, uma ideologia. É decerto muito mais do que um instinto. O justo é uma expressão da experiência espiritual. Ou melhor: o justo é a mais elevada expressão da experiência espiritual.
Por "experiência" quero falar em algo forjado na vivência da história, uma vez que a condução dos valores entesourados, dentre os quais aqueles que parecem inexpugnáveis, bem como os que foram descartados como indesejados, somente podem ser capturados no fio das horas, na trama dos dias, nas peças dos anos.
Ambos, entesouramento e descarte, são compreendidos e devolvidos no nível da percepção - vale dizer, no âmbito da consciência e do coração -, mas não são exatamente uma criação pessoal, e sim uma epifania. São uma espécie de recriação, ou de natureza morta, que se deixa abandonar por um merecimento incerto e até improvável. É uma doença.
Por "espiritual" quero dizer que a tradução dos atos da vida em atos de justiça passa pelas instâncias do amor e da prudência. Amor é a sublimação da razão, porquanto conduz a própria experiência à simpatia e à comunhão. Sabemos que a forma mais perfeita de amor foi elaborada - elaborada, não inventada -- pelo cristianismo. E sabemos que a prudência é a medida da caridade, pois evita que esta se transforme em sentimentalismo mítico, em hipostasia ingênua.
Espiritualidade não-empírica tende a uma abstração vazia, distante, ensimesmada, entregue a aparências exteriores como se fossem códigos de procedimentos legais manipuláveis por categoriais profissionais. "Não há, em verdade, justiça sem homens justos", ensinava um velho que era velho e que era sábio.
Uma experiência não-espiritual deseja renunciar àquele "toque de perenidade" que insiste em se deixar levar pela mão do crescimento da desconfiança, da falta de espontaneidade, do pressuposto da má fé, da vitória da mentira, da fofoca e da estupidez.
Aos leitores do Jornal de Brasília, esta a minha mensagem para este Natal.
Jornal de Brasília