Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça

"Este jornal é o meu revólver, este jornal é o meu sorriso" (T. Horta, Durango Kid)

Já vimos que a ocupação investigativa do policial ou do promotor se assemelha à do jornalista na busca da verdade de algo pautado como relevante. E que o denominador comum de cada uma dessas atividades é a "busca da verdade", o que significa que a mais fiel correspondência à realidade é tanto o seu princípio regulador quanto o seu objetivo.

É possível que essa busca não seja bem sucedida, e razões para isso não faltam: excesso de trabalho e de crimes (no caso da Polícia e Ministério Público), inversamente proporcional à falta de pessoal, tempo, estrutura material e até motivação psicológica. De todos os problemas enfrentados pela máquina da Justiça - falando de um modo geral -, o mais dramático de todos é a impossibilidade que seus operadores têm de se dedicarem plenamente a seus casos, de conhecerem cada um deles com profundidade, de fazerem estudos mais refletidos para a elaboração de peças de alto nível.

Daí surgem mecanismos de atacado como pressões estatísticas, súmulas, pareceres-padrão ou simplesmente trabalhos feitos às pressas, sem o capricho que se poderia considerar como correspondente ao modelo da alta dignidade da Justiça. Há também preguiça? Há desinteresse? Sem dúvida que sim, por que não haveria? A classe jurídica é por acaso superior às demais nesses quesitos? Mas o que estou afirmando é que mesmo os mais abnegados e de espírito público superior têm que se contentar em fazer o trabalho possível, e não o que consideraria o ideal ou próximo disso, o que o conduziria aos poucos mas com constância à realização profissional.

Mas há uma grande diferença entre a investigação do promotor e a reportagem do jornalista. Este produz informação, divulga-a e fim de papo. Aquele precisa vencer o desafio ainda maior do que o de produzir informação, que é o de transformá-la em prova. O jornalista pode alegar sigilo da fonte; para o promotor, fonte é a própria prova.

Jornal de Brasília