Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça
Existe uma certa mistificação em torno da figura do intelectual. Aliás, é sempre bom saber o que exatamente se está a
dizer quando se usa essa palavra. Salvo em uma perspectiva generosa, na qual o intelectual é aquele que gosta de ler, ou que ENTENDE o que lê, o que existe são categorias análogas, mas não sinônimas, e sim apenas compatíveis e eventualmente coincidentes, a saber: estudioso, especialista, PhD.
É preciso distinguir a recompensa pelos esforços dos estudos e as condições intelectuais que são elusivas a prêmios. Tenho especial consideração por esse tema. Quando leio, por exemplo, Truman Capote, fico admirado não porque poucas pessoas tenham conseguido escrever tão bem, mas porque ele não chegou sequer a completar o ensino médio. Mas existem doutores que foram gênios, como Ortega y Gasset. Este, a propósito, escreveu que a maioria dos intelectuais que conhecia não era sequer inteligente.
Tzvetan Todorov tem uma definição de intelectual: "é um sábio ou um artista (categoria que inclui os escritores) que não se contenta em fazer uma obra de ciência ou em criar obras de arte, em contribuir para o progresso do verdadeiro ou o florescimento do belo, mas que se sente mais preocupado com o bem público, com os valores da sociedade onde vive e participa dos debates que dizem respeito a estes valores".
Assim compreendido, segundo Todorov, o intelectual "situa-se a igual distância do artista ou do sábio que não se preocupam com as dimensões políticas e étnicas de sua obra e do pregador ou do político profissional que não criam uma obra".
Essa ideia, além de agregar dois novos componentes - sábio (sic) e artista (sic) - parece-me excessivamente elaborada, e um tanto idealizada. Não me cai bem essa história de preocupação com bem público e dimensão étnica da obra. Duas décadas antes, Vargas Llosa apontou para "a crença, melhor dito o mito, de que a intelectualidade constituía algo assim como a reserva moral da nação". Parece que Todorov caiu nessa armadilha.
Jornal de Brasília