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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

Costumamos buscar conhecimento no ensinamento deixado por pessoas mortas, muitas delas há muito tempo, séculos, milênios até. Isso acontece pelo motivo de que o tempo se encarrega de preservar a obra, deixando-a viva e mais viva ainda do que quando da contemporaneidade do autor, porque ela se enriquece de livros e artigos de comentaristas sobre o texto original.

Supostamente, a contrario sensu, o fato de cair no esquecimento significa que a obra não merecia pertencer ao território indelével das ideias, e compartilhar do status de "clássico". E não simples clássico nacional, mas mundial. Mas é claro que isso não é tão simples. Legados abandonados podem ressurgir a qualquer momento - e falecer de novo ou não --, ou reaparecer com leituras completamente diferentes. Existem muitas maneiras de se ler, por exemplo, Aristóteles. Além disso, é necessário se fazer distinções importantes. Como se diz no jargão, é preciso separar o que está vivo e o que está morto na própria filosofia, para continuar no exemplo, de Aristóteles.

É das mais curiosas a decisão que o sujeito um dia toma na vida: "sou aristotélico". Ou: "sou aristotélico-tomista". Ou: "sou platônico". Existe de tudo nessas horas. O que leva o sujeito a ser heideggeriano? Muito pior: a ser nietzcheniano? Será questão de gosto? De sobrevivência?

- Você é luhmanniano?
- Luhmanniano? O que é isso?
- Seguidor de Luhmann.
- Ah, então não.

O tempo por si só não é suficiente para se julgar uma obra. Obra boa, científica ou filosófica, afinal, é aquela que traz a verdade, ou que leva seus leitores a se aproximarem da realidade, e as ideias verdadeiras não dependem de nada e ninguém. Não dependem sequer de ser reconhecidas como tal. A verdade continua sendo o que é mesmo que um cretino tenha a oportunidade de estar face a face consigo, e deixar de reconhecê-la: "quod est veritas?"

Outra vantagem dos mortos sobre os vivos é que aqueles não permitem que os sobreviventes testemunhem seus defeitos e suas pontuais mediocridades.

Jornal de Brasília

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