Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
As palavras são nossas amigas ou inimigas? Muita gente boa acha que não há conhecimento sem comunicação, e que todo pensamento só e viável quando urdido pela via da linguagem. Mas alguns homens de gênio acreditaram no exato contrário: que o êxtase contemplativo se aperfeiçoa com uma verdade que se percebe, e não que se demonstra ou se inventa.
Talvez a maneira mais elaborada de se raciocinar seja sem palavras, apreendendo os produtos da razão sem instâncias intermediárias, num processo rápido, poderoso e genuino chamado intuição. Dizem que antes do outono da vida isso é impossível. Mas mesmo depois dos 40 isso continua sendo improvável, ainda que as rugas e o branco dos cabelos deponham a favor das aparências. Por mais que a coruja bata suas sábias asas ao somente entardecer, não é menos notório que "barba non facit philosophum". Não existe botox para esse processo que envelhece e envilece.
Mas ninguém é filosofo o tempo inteiro. As pessoas pensam para viver, não vivem para pensar, o que se aplica até aos mais dotados, que também tem de se ocupar de tarefas corriqueiras, de modo especial quando a grana é curta e é preciso se virar para arrumar comida e remédio. Essas horas exigem flexibilidade nos reclames da vida prática.
Vocês já notaram que, quando conversamos com alguém e esse alguém está gostando de tudo o que ouve, um sinal deverá ser revelado. Pode ser consciente, como uma piscadela ou um balançar positivo com a cabeça; pode ser involuntário, como ficar com o rosto vermelho ou sentir algum tipo de coceira. Mas o meu favorito é aquele velho sorriso com os olhos. Com esse sorriso, não se precisa dizer nada, está tudo já compreendido.
Pensar sem palavras e agora conversar sem palavras. Se a primeira atividade não é apanágio de todos, a segunda também não é. Dessa, os mais privilegiados são as pessoas casadas. Mas, por favor, entendam que estou a me referir aos realmente bem casados, aqueles cujo tempo deixou crescer raízes que envelhecem mas não envilecem.
Jornal de Brasília