Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
Na edição do Jornal de Brasília de 21.11.2011, foi publicado artigo de minha autoria chamado "O Congo". Relembrei que esse país foi incorporado ao patrimônio privado do rei da Bélgica etc. etc.
Para quem quiser conhecer melhor essa história, uma boa pedida é ler "O sonho do celta", de Mario Vargas Llosa, um dos melhores escritores que o mundo já concebeu. Enquanto isso, eu acrescento o seguinte.
O Congo foi criado em 1885, na chamada Conferência de Berlim. O rei Leopoldo II já administrava a região, de tamanho 85 vezes maior que sua própria nação, e que tinha presumivelmente uns 20 milhões de habitantes.
No ano seguinte, o Monarca baixou um decreto, reservando como "Domaine de la Couronne" - ou seja, somente para si, livre de concessões a exploradores e empresas particulares - uma área rica em seringais, entre os rios Kasai e Ruki, de cerca de 250 mil km². Mas todo o país, que antes se chamava Associação Internacional do Congo, e que passou a ser conhecido como Estado Independente do Congo, tinha um único presidente e "trustee", que era Sua Majestade ela mesma.
Pois bem, lá pelas tantas o tal Rei enviou uma tropa de dois mil soldados belgas, que deveriam se juntar a outros dez mil soldados nativos, para fins de eliminação do tráfico de escravos. Os primeiros foram assim descritos por Vargas Llosa: "rufiões, ex-presidiários, aventureiros ávidos de fortuna saídos dos monturos e das zonas de prostituição de metade da Europa"; eles eram "brutais e insaciáveis quando se tratava de comida, bebida, mulheres, animais, tudo o que pudesse ser roubado, comido, bebido, vendido ou fornicado".
E arrolo eu, por conta própria, como integrantes das fileiras de "gentes da pior índole": fofoqueiros e patifes que não sabem fazer outra coisa na vida senão intrigas, maledicências, descocos, dislates, alogias, apodos e traições.
Sei não, mas entre a opção de ser picado por uma formiga vermelha ou por um futriqueiro inveterado, eu tendo a votar na primeira. Tendo, não. Voto.
Jornal de Brasília