Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
Em todos os textos escritos, existem três coisas: a pessoa que escreve, o texto em si e a pessoa que lê. Autor, texto e leitor. Não vamos chamá-los de coisas, mas de entidades, aspectos, ou mesmo momentos (sic).
Isso vale para todo e qualquer tipo de texto, desde um elaborado estudo sobre física quântica até um bilhete simples e muito particular, feito à mão e deixado na pia do banheiro.
Em coisas sérias e públicas, com alto nível de amplitude em termos de auditório, como teorias científicas ou documentos legais, é muito importante saber de onde foi que saíram. Da fonte surgirá a questão da autoridade, intelectual, no primeiro caso, jurídica, no segundo. Ninguém lerá ou levará a sério algum trabalho que não mereça de antemão uma certa dose de consideração, vale dizer, antes mesmo de ser percebido como algo existente no mundo das ideias, algo enfim com que valha a pena perder tempo. Por outro lado, leis aprovadas em outros países somente me afetarão se seus efeitos de alguma forma ultrapassarem seus limites geo-políticos; leis válidas no solo brasileiro, mas já revogadas, despertam interesse imediato histórico ou antropológico.
A questão da credibilidade da fonte também coloca a questão da autoridade moral. Neste país, o legislador são o Congresso Nacional, a Presidência da República e o Supremo Tribunal Federal, e não é fácil obedecer a seus comandos normativos quando não existe nada além de antipatia e desconfiança para com seus ocupantes, talvez repulsa. Universidades e revistas especializadas produzem sim conhecimento, mas também produzem coisas ruins e às vezes não produzem é nada.
O aspecto do autor teve seu ápice no romantismo e na literatura do século XIX. Embora aquele bilhete à mão não seja resultado de escolas ou épocas, mas a expressão de um sentimento privado, ele participa da mesma preocupação. Um bom e velho “eu te amo”, e mais nada, só me convém se me for deixado em situações específicas. O “eu” antecede o “amo” e antecede o “te”, que sou eu mesmo.
Jornal de Brasília