Alexandre Sales de Paula e Souza, Ivaldo Lemos Junior e Libanio Alves Rodrigues
Promotores de Justiça do MPDFT
A história é composta por fenômenos visíveis e invisíveis. Quanto aos primeiros, qualquer observador pode perceber ou participar de eventos supostamente relevantes, tais como conversas, reuniões, discursos, votações, comícios, passeatas, mortes, julgamentos, dentre outros.
Mas existem acontecimentos que provocam ou explicam as motivações, as conexões entre si, os jogos psicológicos e até as suas próprias previsões. Aqui campeia o privilégio dos olhares mais agudos ou dos protagonistas da história.
Depois que as coisas acontecem, é comum aparecerem personagens falsos, que não tiveram nenhuma participação de peso, mas que se dão uma importância desproporcional ou inexistente, ou que tentam moldar os fatos de acordo com suas versões. Nada garante que uma ou outra coisa possa prevalecer, subordinando a realidade em si à farsa, ou seja, à vaidade que resiste à miséria de não ter sido mais do que uma mera testemunha da vida, se tanto.
Um caso como o da “Caixa de Pandora” de forma alguma pode ser compreendido como fruto de fatores de uma configuração singela, ou como obra de alguém isoladamente. Isso simplesmente não seria possível. Mesmo um maluco que atentasse com sucesso contra a vida de algum figurão não conseguiria causar estrago para muito além da comoção pública e das formalidades jurídicas.
Já aconteceu de políticos graúdos responderem a processos ou irem presos. Um presidente da República suicidou-se e outro renunciou ao mandato em momentos públicos e particulares delicados. Mas jamais havia acontecido de um governador, em pleno exercício do cargo, deixar o Palácio e ser levado diretamente para a cadeia, e não mais voltar ao serviço.
Como disse, são mais de um os personagens centrais desse episódio. Mas uma pessoa em especial foi a força motriz de tudo, foi a formiguinha atômica sem a qual nada teria acontecido. Não vou dizer seu nome, mas ele trabalha como promotor público, é alto, magro, tem os dedos tortos e sotaque mineiro e gosta de vestir ternos sob medida.
Jornal de Brasília