Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
Quais são as piores formas de vida que existem? Taí uma pergunta que comporta muitas respostas. Mas podemos arrolar basicamente dois blocos bem evidentes.
O primeiro concerne às condições do meio ambiente. Lugares inóspitos, por demasiado quentes (desertos) ou frios (geleiras), parecem pouquíssimo atraentes. O mesmo se diga de locais como presídios ou bairros violentos, onde campeiam os roubos, o tráfico de drogas, a miséria, a falta de perspectiva para o futuro. Todas essas modalidades dizem respeito a questões objetivas da existência.
Um segundo bloco trataria de aspectos de saúde pessoal. Problemas cardíacos, respiratórios ou quaisquer outros, desde que significativos, fazem despencar o bem-estar de qualquer um, especialmente de quem pouco ou nada pode fazer. Esses são os que não têm como consultar um bom médico, fazer os exames cabíveis, submeter-se aos tratamentos. Os privilegiados padecem menos, mas padecem também. Doenças graves incomodam a todas as pessoas.
Mas uma coisa não tão óbvia também faz mal, que é a subtração a uma vida contemplativa.
Nenhum homem consegue construir sua trajetória de modo totalmente prático, reduzindo à rotina a grandeza de seu potencial. Mesmo os trabalhadores que desempenham serviços braçais os mais enfadonhos, sujos ou perigosos, necessitam de pausas. Essas pausas não se prestam para descansar o corpo, mas, sobretudo, para reequilibrar o espírito, o que quer dizer a abstração da realidade em seu sentido mais modelar.
Essa carência atingiu seus pontos culminantes na religião, na arte e na ciência. Os caminhos são muito variados e os encontros às vezes surpreendem. Pode acontecer alguma satisfação em níveis considerados rudimentares, mesmo em espíritos sofisticados. Uma reunião social marcada por música rock pode ser perfeitamente agradável a um ouvido educado, erudito.
Uma conversa de faxineiros sobre faxina não é decerto a mais convidativa, mas a linguagem produz algo de uma riqueza diferente do rodo e da vassoura.
Jornal de Brasília