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Promotor de Justiça Ivaldo Lemos Junior

Em um quadro do filme “O fantasma da liberdade”, de Buñel (que cito de memória, pois o assisti há alguns anos), sujeito pega um rifle, posta-se no topo de um edifício e começar a atirar aleatoriamente contra transeuntes. É preso e julgado. Ao ser anunciada sua condenação, de imediato são-lhe retiradas as algemas, ele sai livre pela porta da frente do fórum, e é ovacionado, aclamado como herói.

Às vezes é assim que eu me sinto na dura caminhada pela noite escura da floresta jurídica, que é a que escolhi para existir profissionalmente.

O que vou falar não serve apenas para o franco-atirador fictício, mas para qualquer pessoa diante de qualquer ação. Existem duas perguntas preliminares que precisam ser enfrentadas para que os fenômenos da vida se abram à possibilidade da compreensão, assim tomada tanto em um sentido moral quanto em um nível epistemológico: quem é o sujeito e o que ele pretende?

No caso do filme, nenhuma das duas é respondida. O diretor quis apenas colocar em evidência o tema do absurdo, que é, afinal, o leitmotif dos demais quadros.

Todavia, vemos nos noticiários, principalmente dos EUA, mas também de outros países, o Brasil inclusive, alguém que resolve disparar contra pessoas em escolas ou cinemas, matando muitas, ferindo muitas. O diagnóstico costuma vir simplificado pela platitude do senso comum, pelo escândalo imediato: muito mais do que um delinquente, era um louco. Louco, por definição, faz loucura.

Quando se está inserido em uma instituição, aparece uma terceira questão propedêutica, que não diz respeito ao sujeito individualmente considerado, pois a instituição tem uma finalidade e seus integrantes têm competências e funções. Em A lista de Schindler, o comandante de Plaszów, capitão Amon Goeth, fez algo materialmente parecido com qualquer franco-atirador mas, por mais que pudesse sim ser visto também com um louco sádico ou um criminoso de guerra, ele estava no cumprimento de suas atribuições públicas. A coisa aqui é mais complexa.

Jornal de Brasília

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