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Inácio Neves Filho
Promotor de Justiça do MPDFT

Há palavras cuja utilização continuada com um determinado significado acaba por erigir como absoluto determinados conceitos, relegando a plano inferior a essência do que verdadeiramente significam. Inteligência, por exemplo, é uma dessas palavras que tem se pautado com grande equívoco quando se propõe a definir grau de importância ou de sucesso de alguém, seja na vida pessoal ou profissional.

Diariamente, presenciarmos afagos e elogios a quem passou num concorrido vestibular ou em um bom concurso público, cujas pessoas são então rotuladas de inteligentes. Ocorre que, se analisarmos qual a razão do sucesso alcançado, constataremos que outros fatores foram determinantes, notadamente o esforço, a dedicação, a persistência, a motivação e a serenidade do candidato.

Profissionais reconhecidamente famosos, das mais diversas áreas, mesmo ombreando o rótulo de inteligentes, nem sempre desempenham sabiamente a função que escolheram. É que a excelência dos serviços prestados à sociedade tem mais a ver com outros princípios - não escritos nem normatizados - impregnados ou não na alma de cada profissional. São valores que, em geral, não se aprendem nos bancos da faculdade, nem em eventual doutoramento: são apreendidos, dia após dia, gradual e naturalmente, sem muito esforço, iniciando-se no seio familiar. Dentre tais valores, de caráter universal, destaca-se a Sabedoria. Mais do que erudição, conhecimento filosófico ou científico, sabedoria é a aplicação inteligente da grande soma dos conhecimentos adquiridos - não somente inspirados das coisas divinas.

É de fácil constatação, em qualquer área do conhecimento, que muitos são os profissionais preparados do ponto de vista científico, mas poucos são eficientes e habilidosos de modo a otimizar os resultados que se espera do ofício desempenhado. Ocorre que a sabedoria é qualidade inerente a poucos – infelizmente. Vejamos, por exemplo, a atuação profissional do médico. Ora, como é difícil encontrar um bom médico: um profissional competente, dedicado, estudioso, ético e, acima de tudo, comprometido com o bem estar e a saúde do paciente. A relação de confiança, a empatia, normalmente ocorre quando essas qualidades vem conjugadas, o que é raro.

Não raras vezes, o paciente procura mais de um profissional para o mesmo problema, não necessariamente pela desqualificação do médico, mas por não se sentir seguro na relação estabelecida, sendo que o desencanto ocorre tanto no atendimento na rede pública, como no consultório particular. A impressão que se tem é a de que, na formação acadêmica, faltaram a esses profissionais disciplina capaz de dotá-los de senso maior de cuidado e atenção com o paciente, muitas das vezes, já fragilizado emocionalmente quando da ida ao consultório médico.

A titulo de exemplo, tomo a liberdade de citar situação por mim mesmo vivenciada. No início do ano fui acometido de uma toxoplasmose, cuja doença causou-me uma lesão na retina, com grande turvação no olho afetado por cerca de dois meses, quando então procurei um oftalmologista. Como qualquer paciente, esperava eu que o profissional por mim escolhido, acolhesse o problema como um todo, não para resolvê-lo por si, mas para indicar-me a especialidade que cuida da questão de fundo - a toxoplasmose. Mas, não foi isso que presenciei. Depois de uma romaria à procura de um oftalmo que me transmitisse segurança e, não tendo conseguido, busquei orientação junto à uma prima que, embora médica de outra especialidade, me tranquilizou, indicando-me um bom infectologista. Só então fui medicado e acompanhado de forma eficaz, o que evitou qualquer comprometimento da visão, já que houve combate ao protozoário - agente causador da lesão. Incrível como nenhum dos oftalmos que, até então, eu havia procurado teve o cuidado necessário de me encaminhar para o infecto, questão que se afigura como o básico do básico.

Mas, o que aconteceu comigo é apenas um caso dentre tantos outros que ocorrem diariamente, no mais das vezes, ainda mais grave. Quem é que não teve algum familiar ou conhece alguém que passou por situação idêntica? E estamos falando apenas de falta de senso de cuidado e de comprometimento real com a saúde do paciente, porque não compete a mim imiscuir em seara alheia - da qual me considero ignorante -, como analisar diagnósticos equivocados e erros médicos cometidos.

Mas, para fazer justiça à classe dos profissionais verdadeiramente humanos, entendo como saudável sugerir aos que atuam na área da saúde que, quando do atendimento ao paciente, inspirem-se em médicos, da excelência dos Drs. Marcos Ávila e Francisco Eduardo Lima. Psicólogos, da envergadura ética, grau de serenidade e espírito humano, da Dra. Ana Maria dos Santos Resende. Fonoaudióloga, inteiramente comprometida com a recuperação da linguagem do paciente, como Sâmia Neves Louzan. E, Assistente Social, empenhada, de corpo e alma, em garantir direitos e assistência à população desamparada, como Simone Maciel Pereira; apenas para citar alguns dos vários bons profissionais que conheço.

Pois bem. A segunda parte deste ensaio é dedicada aos colegas promotores de justiça, cuja análise que farei é quanto à habilidade e eficiência desses profissionais na incansável busca de efetiva justiça e paz social. Mas, enquanto se aguarda aquela publicação, sugiro ao leitor de hoje o seguinte: quer qualidade e segurança no atendimento à sua saúde? Mais importante que ter um bom plano de saúde é ter ao seu lado um médico da família, de preferência parente bem próximo. Caso contrário, e se você ainda é solteiro, case logo com uma médica - de qualquer área. Ninguém melhor que a sua esposa pra ter a sabedoria essencial para lhe socorrer na hora do apuro - seja qual for o seu problema de saúde.

Diário da Manhã

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