Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

Caluniem.  Caluniem.  Alguma coisa sempre acabarão pegando (Talleyrand)

Nas chamadas sociedades abertas, o poder político é tão complexo que dificilmente pode ser localizado em um grupo pequeno ou em uma única pessoa, senão por um exercício de metonímia (Kremlin, Brasília, “a elite”) ou antropomórfico (o bigode do Stálin ou do Hitler, os dentes magníficos do Obama, o George Soros inteiro).

Mas é possível fazer reduções para se compreender o fenômeno. Aliás, só é possível se compreender a vida política, como de resto praticamente qualquer fenômeno menos elaborado, fazendo simplificações. Ou “ultra-simplificações”, no jargão de Sirl Karl Popper. Este sabia que cada termo indefinido deve, em última instância, ser definido com a ajuda de alguns outros termos indefinidos. Ortega chamava isso de ironia.

Seja como for, podemos enxergar o exercício do poder político quase sempre com uma configuração triangular, em que dois dos ângulos se juntam para se contrapor ao terceiro.

Todas as circunstâncias são variáveis: motivos, momentos, impactos, consequências, detalhes em geral. Até a movimentação dos vértices é dinâmica. Mas o desenho não muda. O macho alfa precisa do macho gama para conquistar o poder e mantê-lo fora do alcance do macho beta. O gama não precisa ter muita força; só o bastante para contribuir em alguma medida e, em compensação, receber benesses anódinas (grosso modo, dinheiro e mulheres). Já a relação entre alfa e beta só faz sentido em função do gama; se o espaço deste não for ocupado, a tendência é que a tensão atinja níveis perigosos demais.

Na Ilhéus de Gabriela, aquelas duas solteironas obedecem às ordens da D. Dorotéia. Realizam de bom grado tarefas que a velha não pode desempenhar sozinha, basicamente de circulação de informação. Ou seja, de futricagem, maldade, destruição. Em troca, obtém proteção, falsa gratidão, sensação de importância e até promessa de casamento, ainda que seja com aquele louco varrido do coronel Jesuíno.