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 Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

 

Amo a liberdade e o ar sobre a terra fresca; eu preferiria dormir em estábulos a dormir em
suas etiquetas e responsabilidades (filósofo alemão cujo nome prefiro não mencionar).

O cinema sempre explora um velho argumento. Por algum motivo misterioso, cujo estopim é um raio ou um choque elétrico, o sujeito deixa de ser quem é. Ou melhor, continua sendo quem é, mas com outro corpo. Passa a ser um amigo, a mulher ou ele mesmo, só que mais novo ou mais velho.

No final, o encanto se desfaz e tudo volta ao normal, num final feliz. Parece que a moral da história é óbvia.

No último que assisti, dois amigos transformam-se um no outro. O primeiro é casado, filhos, bem sucedido, o outro é solteirão e meio malandro. A fita é um clichê só, mas mostra uma coisa importante, que é o fascínio recíproco que sente o casado pelo solteiro. O homem casado gostaria de ser solteiro e vice-versa. Ou estou falando por mim?

Seja como for, a consubstanciação, digamos assim, opera-se em um plano mental – nem mesmo a memória é afetada, o que faria a trama, na premissa de sua artificialidade, perder ainda mais a graça --, no sentido da base material que a cabeça e o corpo precisam para funcionar.

Eu não me reconheceria se olhasse no espelho e visse os dentes magníficos do presidente Obama ou o cabelo do Phil Spector, ou se ouvisse a voz de Johnny Hartmann ou do Marlon Brando. Mas, de bom ou mau grado, poderia me acostumar e conviver com esses aspectos, que são periféricos na constituição da minha personalidade. As questões de conteúdo forjam objetivamente a imagem da pessoa, e apenas permitem vislumbrar o pêndulo nós-eu. É como se uma hora e meia de filme fosse algo tão elusivo quanto um átimo ou uma vida de 100 anos.

Vejam as mulheres da Ilhéus de Gabriela, cada qual um exemplo ambulante de (1) moça, (2) dama da sociedade, (3) quenga ou um raro meio-termo entre (4) defloradas-mas-honestas, categoria na qual Gabriela e Lindinalva conseguiram sobreviver, mas não muito mais do que isso.

Jornal de Brasília

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