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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

Sir Arthur Woodward foi um homem estudioso, trabalhador, de propósitos honestos indiscutíveis. Foi, também, reconhecido como um pesquisador sério e merecedor de títulos e prêmios. Mas cometeu um erro terrível, do qual não teve oportunidade de se aperceber ou pelo menos de corrigir. 

Ele nasceu em 1864 e, portanto, não era mais criança -- tinha quase 50 anos -- quando o Homem de Piltdown apareceu em sua vida. Tal achado antropológico, como se sabe, era uma farsa. Mas Woodward não sabia disso. O embuste só foi definitivamente decretado em 1953, quando ele já estava morto havia quase uma década. 

Sir Arthur passou os últimos 30 anos de sua vida estudando o Homem de Piltdown, acreditando firmemente que se tratava de um gênero próprio, muito mais significativo do que os ancestrais mais antigos europeus, o Cro-Magnon francês e o Neanderthal alemão. 

Pois eu me pergunto. E se fraude tivesse sido descoberta quando ele ainda estava em atividade? Teria ele se agarrado a seu fóssil e continuado a defender uma grande parte de sua vida a ele dedicada, ou teria se rendido às evidências e reconhecido que estava enganado e que aquilo não valia era nada? Teria humildade ou coragem de fazê-lo? Como administrar a sensação do ridículo e do fiasco? 

A ciência é uma atividade humana. Embora tenha pretensão de atingir níveis de objetividade universal que transcenda o domínio da opinião e da paixão, é ela feita por e para homens. Está, de cabo a rabo, sujeita a equívocos. Pior: situa-se no território de elementos que podem se combinar de maneira explosiva: glória intelectual, poder (inclusive político) e dinheiro. Essas são coisas mundanas demais, que conspurcam os ideais mais nobres a que aspiram. 

Que paleontólogo ou arqueólogo gostaria de passar anos a fio fazendo escavações e não encontrando um mísero pedacinho de osso ou um caquinho de não sei o que? Que pesquisador não gostaria de ser associado a uma notável descoberta no seu ramo de conhecimento, e virar um verbete de enciclopédia?

Jornal de Brasília

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