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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
 
Pobre Woodward. Ele passou quase metade da vida agarrado a uma tese falsa e em seu preconceito. Existem preconceitos certos e errados (assim como pode haver uma tese certa baseada em um preconceito falso), mas no caso dele estava tudo errado: a autenticidade e a importância do Homem de Piltdown.
 
O preconceito era, melhor dizendo, um feixe de premissas conjugadas, e a primeira ele próprio explicitou em um artigo publicado em 1948, sob o título “The earliest englishman” (“O primeiro inglês”): “todas as nações no início dos tempos se inclinaram a glorificar suas origens e considerar seus fundadores como mais próximos de deuses do que de pessoas comuns”.
 
O mesmo estado de espírito etnocêntrico é que inspirou e continua inspirando, por exemplo, a “Cultura Clovis” americana ou a impenetrável antropologia chinesa. Alemães e franceses possuíam seus ancestrais fósseis, deixando a Inglaterra para trás no protagonismo da trajetória da evolução humana. Isso foi atiçado por novidades que vinham da África do Sul, essas sim muito mais consistentes e desapaixonadas, mas que foram relegadas ao oblívio do academicismo da época.
 
Mas uma coisa é confundir a origem dos mitos cosmogônicos, e outra, a necessidade de suportá-la com evidências concretas, que possam ser manipuladas, ou subordinadas ao martelo da ciência. Isso em nada difere do esforço de se demonstrar a veracidade do Livro do Gênesis encontrando um pedaço da arca de Noé ou alguma relíquia do gênero.
 
Um ser completo que se encontra em um mundo perfeito ao seu dispor, mas que decai e inaugura a humanidade propriamente dita, ou um ser incompleto e pouco superior, que vai se adaptando ao mundo aos poucos, a duras penas? Sir Arthur disse que uma hipótese é mais misteriosa do que a outra, e nesse ponto ele acertou na mosca.
 
Jornal de Brasília
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