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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

A parte humana do “Homem de Piltdown” era composta por cinco fragmentos de crânio. O primeiro foi achado em 1909 por alguém que entregou a Charles Dawson, que por sua vez entregou a Arthur Woodward em 1912. Os outros foram localizados em 1911 e 1912. Já a parte da mandíbula – de um orangotango, mas com alguns dentes limados para forjarem uma aparência humana – foi desenterrada em 1907.

Algumas dificuldades iniciais: as partes do crânio eram da mesma cabeça? Se sim, a cabeça e a mandíbula pertenciam à mesma pessoa? Os dois Sir Arthur, Keith e Woodward, resolveram responder que sim a ambas as perguntas, e cada um fez sua própria reconstrução da caveira (bem diferentes entre si). O único ponto em comum era que ambos os trabalhos montavam uma pessoa que jamais existiu – e que, segundo os conhecimentos odontológicos do Dr. Kenneth Oakley, jamais poderia ter existido.

Esse é o problema que surge imediatamente em seguida à decisão – a palavra é essa, decisão – de se levar adiante um propósito teórico a partir de escassa disponibilidade de matéria-prima, compensada por generosas doses “wishful thinking”. A discussão passa a um nível epistemológico, que é obsedado, por um lado, pela pseudo-solução axiomática dos entusiastas e, por outro, por questionamentos variados de detratores ou observadores imparciais. Daí para se descambar para questões paralelas, como de ordem política ou de intriga pessoal, é um piscar de olhos. E o assunto em si fica em aberto.

Quer ver outro exemplo disso? O Homo Habilis. Este é uma obra de Louis Leakey. Mas de que tipo? Descoberta ou invenção? Quem quer viajar ao interior do “wishful thinking” vulcânico desse homem, de seu coração amante, de seus tiros de tempo e percussão? Antes de ser uma questão científica, isso é uma decisão muito pessoal.

Jornal de Brasília

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