Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
Para você ter uma ideia do tipo de homem que era Louis Leakey. Em 1959, sua mulher e colega Mary localizou na Etiópia um crânio fóssil humano, que viria a se chamar “Zi nj ” (então chamado Zinjanthropus boisei), o primeiro australopitecídeo encontrado fora da África do Sul, datado de 1,8 milhão de anos e super-robusto. Louis não acompanhara a mulher nesse dia porque estava acometido de forte ataque de malária. Ele experimentara numerosos e diversificados problemas de saúde, inclusive cardíacos (estes, fatais).
Existem duas versões sobre a sua reação quando Mary voltou ao acampamento com a notícia. A mais comum é a de que Louis ignorou os calafrios, pulou da cama e correu para o local, a fim de terminar de desenterrar a ossada. A segunda –prestigiada por sua biógrafa –é a de que Mary já tinha o fóssil em mãos, que ele viu, deu de ombros e voltou a dormir. Ficou desapontado porque estava atrás de um Homo e não de um australopitecídeo.
Ele não acreditava que os australopitecídeos fossem ancestrais humanos. Não acreditava sequer que esse papel competisse aos hominídeos de Pequim, Java ou do norte da Europa, que não passavam de ramificações. Acreditava que havia uma linha reta entre os homens atuais e um tipo precursor – que ele haveria de encontrar. Essa glória estava escrita nas estrelas para ele.
Com uma fé mais firme em suas convicções do que nos fatos, cometeu erros grosseiros em sua carreira, como a importância que atribuiu a fósseis que localizou na garganta de Olduvai e no Lago Vitória, e que foram demolidos, em ambos os casos, por estudos imparciais. Estudos esses que todavia ignorou. Louis Leakey era brioso, não admitia erro, não voltava atrás. Ai daquele que não achasse que qualquer coisa feita por si era especial, só por ter sido feita por si.
Jornal de Brasília