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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

O arqueólogo inglês Steven Mithen tem uma tese, desenvolvida no livro “A pré-história da mente”, segundo a qual os seres humanos, e mesmo primatas superiores, em volumes rudimentares, têm tipos de inteligência ou “domínios cognitivos”, que classificou como geral, social, técnica, naturalista e linguística.

São ali apresentadas incontáveis evidências da existência de tais domínios como categorias próprias, e também provas materiais de como cada qual se aperfeiçoou ao longo dos tempos. Mithen acredita que a mente moderna é fruto tanto das inteligências em si quanto da comunicação entre si, o que chamou de “fluidez cognitiva”. Numa espécie misteriosa de “big bang”, o conhecimento passou a se harmonizar, incrementando o pensamento abstrato, a paixão por metáforas e analogias, a sensibilidade artística e religiosa.

A tese é engenhosa e foi extraída de uma base montada em sólidos argumentos. Além disso, há a explícita confissão de que existem várias questões importantes a serem respondidas, o que deixa seu trabalho com um certo toque de humildade, de que precisa ser aprimorado. Isso vale não para esse trabalho exatamente, mas para o próprio trato científico da matéria, que não é afinal um território delimitado de modo rígido. Lembre-se que estamos falando de um arqueólogo explicando a mente humana. Nessas horas, não se costuma ouvir a opinião de tal tipo de especialista. Até juristas são lembrados antes deles.

Mas há mais uma coisa de que gosto na tese. É o reconhecimento de que foi a inteligência social que veio primeiro, e não é por acaso que até hoje pessoas falem mais sobre pessoas do que qualquer outro assunto. Faz sentido. Talvez o futriqueiro não seja alguém ruim, e sim apenas um macaco doente. Calúnia, injúria e difamação podem ser sintomas mais do que crimes.

Jornal de Brasília - 21/1/2013

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