Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
Professor mesmo é aquele que sabe tratar determinada doutrina, em um momento inicial, de maneira rigorosamente explicativa. O que e quanto, não cabe concordar ou discordar; basta que as explicações sejam feitas com acuidade (ainda que elas mesmas não sejam claras, o que requer um esforço redobrado) e conhecimento de causa.
Aqui, uma boa dose de honestidade intelectual é percolada por duas espécies de filtro. O primeiro é a resistência à tentação de se falsificar a ideia de alguém com quem se tem séria divergência. Ultrapassada essa premissa, vamos convir que não é decisão das mais fáceis estudar e, mais ainda, expor com boa-fé o pensamento de terceiro dentro desse contexto. Por exemplo, toda a mentalidade conservadora repudia Marx e seguidores, mas nem toda ela saberia explicar a fundo suas razões. Da mesma forma, a linha esquerdista costuma desprezar “inaudita altera pars” autores cristãos, mesmo que sejam um Agostinho, um Pascal, um Marcel, um Lavelle.
Vejam como funciona a soberba intelectual nessas horas: um Kierkegaard não tem importância não pela qualidade de sua obra, mas porque o sujeito não a leu, e não o fez porque não a julgou merecedora, por uma opção vazia, por puro preconceito. Logo, aquilo que desconhece, por razões egocêntricas, é descartado como algo irrelevante em termos objetivos. Trata-se da unção da ignorância mais pateta e mesquinha.
Somente após a primeira etapa, a expositiva, é que se penetra no território da crítica. A moralidade dessa fase maneja a utilização de outros filtros: à demonstração prévia de que se sabe o que se está criticando se segue a certeza de que as visões ficam por assim dizer juntas, mas não emulsionadas. Professor de verdade é aquele que dá conta de fazer um contraditório consigo mesmo. Mas isso ainda não é tudo.
Jornal de Brasília - 11/3/2013