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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

Existem razões para que o autor seja descartado sumariamente como alguém que não merece ser lido. O primeiro limite é o fato de ser ou ter sido -- para resumir a ideia ao máximo – um canalha. Sei que este julgamento é subjetivo e um tanto cruel, mas vamos fazer uma pausa para reflexão. Nem vou relembrar exemplos extremados, como o de Goebbels, que era PhD em filosofia, e cuja tese de doutoramento não tem sido muito citada por acadêmicos mundo afora.

O sujeito que recebe dinheiro para escrever é um canalha. Não estou falando de bolsa de estudos. Estou falando do financiamento de pesquisa com um final pré-determinado por uma agenda política, por entes públicos ou particulares, tanto faz. Esse contexto decreta a morte da licitude intelectual, porque o pensador precisa se permitir se perder um pouco. Ele sabe por onde começar, pois escolheu livremente o tema. Mas o desenvolvimento dos trabalhos naturalmente provoca surpresas, conduz a caminhos imprevisíveis ou imprevistos, leva a resultados inesperados.

Não se pode lutar contra isso; a rigor, pesquisa é exatamente isso. É a adaptação das pré-concepções do sujeito à realidade do mundo. Seu trabalho não consiste em um desfile de memórias pessoais – ainda que não escritas em primeira pessoa --, e sim em um esforço através do qual a verdade se manifesta ou, ao menos, se deixa notar com um pouco mais nitidez. Um pouco que seja já paga a pena.

Mas o pesquisador encomendado não tem interesse algum nessas coisas, se é que as percebe. Ele tapa os ouvidos para tudo aquilo que diverge de sua função. Seu trabalho é farsesco, mas (ou por isso mesmo) será recompensado com títulos, posições e vantagens. É questão de tempo para ser reconhecido na praça como um intelectual, e essa fraude não será desmascarada pelos olhares desavisados.

 

Jornal de Brasília - 25/3/2013

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