Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
“Inteligência consiste sobretudo em abrir-se à realidade, deixar que ela penetre na mente e seja aceita, reconhecida, possuída” (Julián Marías).
O esforço de compreensão e discernimento é uma questão intelectual. Implica a utilização da razão – definida por Julian Marías como “apreensão da realidade em sua conexão” – e seu aperfeiçoamento pelas vias do conhecimento teórico, experiência de vida, capacidade de observação, refinamento da intuição e, se não for pedir demais, uma bela pitada de modéstia.
O que fazer com tudo isso seria a questão moral propriamente dita, pois todos sabemos que os produtos da inteligência podem ser manipulados para os fins mais diversos. Aqui, o desafio seria a transformação da apreensão da realidade em manifestação da verdade a ser disponibilizada em função de outras pessoas.
O tema, no entanto, não é tão simples assim. Não estamos tratando de terrenos heterogêneos, onde se delimitam claramente o começo e o fim de um e outro. Miguel Reale dizia que “compreender não é ver as coisas segundo nexos causais, mas é ver as coisas na integridade de seus sentidos ou de seus fins, segundo conexões vivenciadas valorativamente”. Para ele, a tridimensionalidade da cultura identifica aspectos didaticamente; no fundo, o que existe são “momentos” que somente um olhar treinado pode perceber de uma só vez, em um só relance. A isso creio que a palavra maturidade cairia bem.
O “jurista” que se vale daquilo que estudou para passear em desfiles de moda – mais ou menos anódinos – ou para demonstrar poder, se tiver algum, é pessoa acima de tudo com graves falhas intelectuais. Reparem: ele não aceitará ser confrontado para valer. Preferirá sobreviver no conforto da cátedra, ensinando ou doutrinando jovens ingênuos e inofensivos, de preferência bajuladores.
Jornal de Brasília - 29/4/2013