Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
Independentemente do que acontecer com a PEC 37, alguma coisa de podre ficou mais clara do que nunca: o relacionamento ruim entre os delegados das polícias Civil e Federal e os membros do Ministério Público. E uma coisa ainda pior apareceu: a falta de vontade de reverter esse quadro.
Chama-se “boa-fé” – Karl Popper usava a palavra “racionalidade” – a nota da discussão honesta, em que nenhum dos debatedores está interessado em esmagar o outro com argumentos mentirosos, armadilhas, insultos, dedos na cara. Ao contrário, na base da boa-fé, as pessoas expõem suas convicções, mas abrem-se à hipótese de estarem pontualmente erradas e mudarem de opinião. Mesmo que não mudem, ao menos estão dispostas a ouvir o outro lado com atenção, e aprender, enxergar a questão por uma perspectiva diferente.
O quadro acima nada tem irrealizável, mas é prerrogativa das pessoas sérias, bem intencionadas, bem preparadas e firmes, mas maleáveis. A boa-fé é a marca da elegância. Ou melhor: é sinônimo de elegância. Nada mais distante disso do que a PEC 37.
Quando não se trata de indivíduos, mas de instituições, as coisas se complicam enormemente. Somente instituições pequenas e muito específicas são homogêneas. Não é o caso, por exemplo, do Ministério Público, cujos integrantes são pessoas de variadas formações culturais e familiares, que trazem valores divergentes para o trabalho.
As notícias não são de todo ruins. Numerosas experiências entre promotores e delegados produziram ótimos resultados. Isso foi condicionado pela boa-fé de uns e de outros. Pois são esses que deveriam estar à frente das discussões, e não os que se esforçam para que a PEC 37 seja aprovada de qualquer jeito. Os elegantes sabem que isso seria uma vitória de araque, que agravaria uma série de problemas mal resolvidos.
Jornal de Brasília - 3/6/2013