Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
Para os estudantes que praticam estágio comigo, aquilo que de mais proveitoso podem fazer é ficar olhando para mim. Não é questão de me admirar, me copiar, nada disso. É questão de observar minha postura, a maneira como me porto na sala de audiência, o cuidado que tenho com os processos, como trato os advogados etc.
Prestando atenção aos detalhes, o estudante vai acumulando informações, positivas e negativas, que vão ajudá-lo a forjar o profissional que será em breve. Tudo é muito sutil e subjetivo, e um tanto inefável, não tem como ser transmitido por escrito, e mesmo verbalmente. Afinal, você pode tentar explicar por palavras o gosto de uma comida ou o som de um instrumento, mas a melhor maneira de fazê-lo é sem palavras: degustando a comida e ouvindo a música.
Claro que conhecimento livresco é importante, e muito, e talvez aqui eu tenha um pouquinho a passar para os mais jovens. Mas o jeito mais proveitoso de sugá-lo é no esforço solitário e paciente, no silêncio de uma sala mobiliada com pouco mais do que mesa, cadeira e um monte de livros. O que o estudante vai fazer no estágio não é adquirir essa espécie de cultura, mas aprender o que fazer com ela. Ou, por outra, discernir a distância que existe entre ela e a realidade, por mais que essa experiência seja frustrante.
Se vocês assistirem à TV Justiça, verão que, à frente dos ministros do STF, são colocados alguns livros, chamados “manuais”. Não são obras de grande valor literário, e sim úteis para consultas rápidas. A solidez da cultura teórica cada um traz para o trabalho. O dever de casa bem feito vale tanto para o ministro do Supremo quanto para o estagiário novato.
Por isso, a segunda lição mais valiosa que posso dar ao estagiário é trocar de promotor. Veja como outros fazem, compare, aprenda e forje.
Jornal de Brasília - 15/7/2013