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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

Que eu saiba, existem cinco emoções universais ou básicas: alegria, tristeza, raiva, medo e nojo. Sentimentos mais complexos são uma combinação desses elementos. Por exemplo, saudade é uma mistura de tristeza, alegria e medo, ou então, alegria, raiva e medo, ou ainda, todos eles, alegria, tristeza, raiva e medo (afinal, existem saudades e saudades). Remorso é uma mistura de tristeza, raiva e nojo, ou então, apenas tristeza e medo. 

Arrependimento pode ser vergonha (que é tristeza e nojo, talvez raiva), mas pode ser só medo. Vejo réus na sala de audiência, aos prantos, pedindo “uma segunda chance”. Não duvido da sinceridade dessas lágrimas, mas talvez a consciência esteja pesada por medo e nojo, ou só medo. O choro da mãe do réu pode ser tristeza e medo, ou só tristeza — tristeza em um estado tão puro que pode até nem ser contaminado ou emulsionado por outros sentimentos.

Podemos pensar na seguinte equação sentimental da audiência judicial em que réu e mãe estão chorando, mas o réu sendo absolvido ao final = {[raiva + (medo2 X nojo)] X tristeza + [tristeza3 X medo]} X alegria.

Brincadeiras à parte, e se eu te falar que moralidade também é um sentimento? Você vai estranhar, não? Pensamos em moralidade como alguma coisa mentalmente sofisticada, como um produto da racionalidade que exigiu conexões elaboradas, pouco pautadas pelas instabilidades das emoções.

Vejam as decisões morais dificílimas de Jean Valjean, como a de se entregar à lei para salvar uma pessoa que estava sendo confundida consigo: ser Jean Valjean era um crime. Seus alter-egos, Madeleine e Fauchelevent, eram disfarces sociais, não de seu caráter. Concluir pela salvação de Champmathieu deixou-o grisalho da noite para o dia, o que é apanágio de gigantes, não dos delinquentes. Esse assunto vai longe.

Jornal de Brasília - 2/9/2013

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