Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
É famosa a classificação de Max Weber quanto às formas de “dominação”. Os três tipos “puros” são de caráter racional (jurídico), tradicional e carismático. Para Weber, toda e qualquer dominação é “a probabilidade de encontrar obediência para ordens específicas (ou todas) dentro de determinado grupo de pessoas”, ou dentre “determinadas pessoas indicáveis”.
O habitat natural do domínio carismático é a dialética entre o líder e seus adeptos, sendo que, da parte destes, o que existe é “uma entrega crente e inteiramente pessoal nascida do entusiasmo ou da miséria e esperança”. E ainda: de caráter emocional.
Isso explica porque aquelas garotas foram morar com Charlie Manson. Quase todas tinham péssimas relações familiares, quando tinham alguma, assim como perspectiva nula de sucesso ou estabilidade profissional. Eram pessoas largadas, perdidas no mundo, muitas já com incursões em crimes, histórico de violência e dedicação às drogas. Psicologicamente vulneráveis, carentes da noção do pertencimento, eram presas fáceis para um espertalhão com boa lábia e uma presença marcante. Charlie ocupou um papel múltiplo em suas vidas, ao mesmo tempo de pai, amante e chefe.
Se Weber dizia que é emocional a associação de dominação “comunidade”, Ortega y Gasset vai dizer algo parecido: “a essência da moral é um sentimento de submissão a algo, consciência de serviço e obrigação”. Aquelas garotas sentiam necessidade de se submeter a algo, e se submeteram a Charlie, que em troca as tratava como escravas sexuais, empregadas domésticas não remuneradas, e mais: assassinas. Era uma honra ser escolhida por Charlie como a ungida para esfaquear alguém.
Uma dessas garotas era Ruth Ann Moorehouse, vulgo Ouisch. Seu pai, Dean, foi ao rancho para matar Charlie – e caiu a seus pés, em adoração.
Jornal de Brasília - 4/11/2013