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Ivaldo Lemos Junior 
Promotor de Justiça do MPDFT

“Nenhum profeta jamais considerou que sua qualidade dependesse da opinião da multidão a seu respeito”, escreveu Max Weber. Mas, em uma passagem do Evangelho, Nosso Senhor Jesus Cristo perguntou a seus discípulos quem as pessoas diziam que Ele era. Porque vinha falando e fazendo coisas extraordinárias, e provocando reações extremadas, estava claro que não era uma pessoa qualquer. Mas quem, exatamente?

As opiniões cogitavam a reencarnação de algum profeta: Elias, Jeremias ou João. O pescador Simão deu a sua resposta, em nome próprio, cujo acerto foi imediatamente recompensado.

O carisma é reconhecido pelos adeptos pelas provas do líder – provas essas que são menos a razão de sua legitimidade, do que um dever estatutário --, via de regra milagres, que são atos que suspendem ou revogam as leis da natureza. O carismático precisa demonstrar não apenas que o é, mas também porquê: “se sua liderança não traz nenhum bem-estar aos dominados, então há a possibilidade de desvanecer sua autoridade”, explica Weber.

Charles Manson era visto pelos membros de sua “família”, ou seja, seus adeptos, como Jesus Cristo. Agradava-lhe o trocadilho de seu nome (Man´s Son significa Filho do Homem) e não fazia questão alguma de dissipar a comparação. Em termos de milagre, talvez o mais notório tivesse sido a multiplicação de LSD, que talvez traga algum bem-estar a seus adeptos, mais do que peixe e pão. Mas os adeptos também comiam comida; nem só de ácido vive o homem.

Mais de um depoimento confirmou que ele soprou o bico de um pássaro morto, que se pôs a voar; e que fazia escorpiões. Difícil acreditar no testemunho de pessoas fanáticas e drogadas? É mais fácil reconhecer a total inutilidade desses milagres? Nem que fosse só para impressionar, Charlie nunca conseguiu andar na água. 

Jornal de Brasília - 02/12/2013

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