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Ivaldo Lemos Junior 
Promotor de Justiça do MPDFT

Hoje vou contar uma história que todo o mundo está cansado de conhecer, mas de uma maneira diferente: de trás para frente. Vamos ver se vai fazer sentido para você.

Imaginemos que entre o lícito e o ilícito exista uma linha, que separa dois lados: o da lei e o do fora- da-lei. Entrar naquele carro ou apertar o gatilho ou dizer sim ou não com a cabeça faz o sujeito atravessar a linha, e passar do lado de cá para o de lá.

O cinema exagerou nessa tarefa e simbolizou em pessoas inteiras tais metades: o mocinho é o bem e por ele vibramos, e o bandido é sua nêmesis, é aquele para quem desejamos um final infeliz, que seja ridicularizado, tortado na cara, abandonado pela garota, preso ou morto (em morrendo, que vá para o inferno). Mas isso é uma paródia, pois a vida real é bem mais complexa. Pessoas decentes cometem deslizes. Nem o mais brutal dos bandidos pratica crimes o tempo inteiro. Muitos têm uma parte terna, e são amáveis com a mãe, com os filhos, com bichos. Muitos outros são inteligentes, cultos, bem colocados e proeminentes na sociedade.

É difícil reconhecer que um bandido tenha um lado bom, por uma questão conceitual: significaria enxergar com menos nitidez a linha. Ele pode estar pisando a linha, e você não saber como lidar com a situação, como julgá-lo. O ideal seria que a linha fosse mais larga, ou seja, uma faixa. Uma faixa que permitisse a movimentação dentro dela, mas não que o sujeito conseguisse caminhar com um pé dentro e outro fora.

Melhor ainda se a linha fosse um muro, um muro alto e cheio de ofendículos, de dificílima transposição, que não desse para ficar em cima nem fugir. Isso sim existe. Antigamente as cidades eram cercadas. Hoje, temos, dentro delas, cadeia, presídio, penitenciária, xilindró, casa de detenção, chame do que quiser.

Jornal de Brasília - 9/12/2013

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