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Ivaldo Lemos Junior 
Promotor de Justiça do MPDFT

Em “Que fazer?”, de Tolstói (não confundir com a obra homônima de Lênin), existe a seguinte previsão do prazo de cumprimento das leis de Deus: “quando homens de nosso círculo, e depois deles a grande maioria dos trabalhadores, não considerarem vergonhoso limpar privadas, mas considerarem vergonhoso enchê-las para que outros homens, nossos irmãos, deem um destino final a seu conteúdo” (sic).

Enquanto houver ser humano haverá alimentação, ergo dejetos corporais, ergo necessidade de se tomar alguma providência. Bolo fecal e produto mictório não são coisas que possam ser ignoradas impunemente, ainda mais se produzidas em escalas maiúsculas.

Ficamos horrorizados quando ouvimos que, em lugares como a Índia, as pessoas esvaziavam os intestinos na rua – e deixavam o expurgo para trás. Nós procedemos de maneira bem mais recatada, aproveitando os benefícios da tecnologia sanitária atual, que permite que um botão faça desaparecer o que tem que desaparecer, como num passe de mágica. Talvez reste a missão de se livrar de algum discreto vestígio demais um dia digestivo que passou, mas nada que se compare aos escravos de outrora, que carregavam na cabeça tinas cheias do material excretado por seus donos, para o descarte de praxe. No Brasil colonial, esses escravos eram chamados de “tigres”.

Vamos um pouco mais longe. Vejo homens, amigos meus – que desdenharão deste artigo --, que se recusam terminantemente a lavar louça ou limpar o chão. Embora tais serviços sejam, literalmente falando, limpos a mais não poder, eles têm a marca do rebaixamento, da humilhação vil. É tarefa para escravos ou, em uma hipótese aceitável, empregadas domésticas. Se estiverem de folga, que isso seja feito pela mulher, pela sogra, pelo diabo. Não por si. O nhônhô não faz essas coisas. Nunca, nunquinha!

Jornal de Brasília - 20/1/2014

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