Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
Em suas pregações, Charlie Manson previu o apocalipse, que chamava de “Helter Skelter”, nome que tirou de uma música gravada pelos Beatles. Ele não sabia que, na Inglaterra, a expressão designa aqueles brinquedos de escorregar, em parques de diversão – e a letra da canção fala sobre isso, e pouco mais do que isso.
Para Manson, “Helter Skelter” era o fim dos tempos. Haveria uma revolta dos negros contra os brancos. Ele achava aqueles inferiores a estes, e chegara a hora de se imporem. Um terço da humanidade (os brancos) morreria, e só os que estivessem no deserto se salvariam. Manson e seus adeptos, todos brancos, moravam em um rancho no deserto.
Como a revolta não estava em vias de acontecer, Manson decidiu adiantar o serviço. Mandou seus adeptos à casa do produtor musical Terry Melcher, que havia lhe esnobado, e matar todos que se encontrassem, o que aconteceu (só não
com Terry, que ali não morava havia tempos, o que Manson ignorava).
Ele achou a matança “uma bagunça” e, no dia seguinte, foi pessoalmente a outra casa, para ensinar como se faz. Entrou e rendeu os moradores. Mas não matou ninguém. Saiu, deu instruções e determinou que os cartões de crédito de uma das vítimas fossem colocados em algum lugar para que um negro o utilizasse e fosse vinculado aos homicídios. Isso deflagraria Helter Skelter.
Manson, portanto, não apenas tinha poderes adivinhatórios; ele mesmo era parte integrante da hermenêutica de sua profecia. O Apocalipse da Bíblia, capítulo 9, diz que “o quinto anjo tocou”. Esse quinto anjo era ele; os outros quatro eram John, Paul, George e Ringo. “Tinham cabelo semelhante ao cabelo das mulheres”, ou seja, compridos. “Tinham couraças como couraças de ferro”, ou seja, guitarras, e “caudas como os escorpiões”, ou seja, os cabos das guitarras.
Jornal de Brasília - 27/1/2014