Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
Uma das técnicas retóricas mais utilizadas por Charles Manson era o paradoxo. Ele dizia uma coisa, depois dizia outra e fazia uma terceira. Com sua maçaroca de pensamentos e atitudes conflitantes, conseguia atrair constante atenção para si, porque as pessoas não sabiam o que prever, o que esperar, como agir.
Por exemplo, Charlie negava terminantemente ser o líder ou o chefe da “família”. Da boca para fora, era apenas um sujeito com muitos amigos que gostavam de si e de sua música. Mas, ao mesmo tempo, controlava com mão pesada o geral e os detalhes. Dava ordens que ninguém ousava desobedecer. As pessoas só comiam quando ele permitia. As orgias eram orquestradas por ele: como, quem com quem e até para quem (quando queria impressionar um visitante). Uma vez uma moça cochilou no meio de uma homilia sua e levou um safanão – o que significa que a força física não era um recurso que se permitiu desprezar.
Uma tática de guerra das mais importantes é a confusão. A canção da artilharia diz: “com seus tiros de tempo e percussão às fileiras inimigas levo a morte e a confusão”. Confundir é uma técnica de conquista e dominação. Pavlov dizia que os “efeitos da estimulação incoerente” provoca “angústia intolerável”.
Esse tipo de dominação costuma ser eficiente, mas não por muito tempo. Um dia alguém não vai mais aguentar e vai se rebelar. A primeira que fez isso com relevância foi Linda Kassabian, que chegou ao rancho de Charlie com uma criança no colo e outra na barriga – e se apaixonou por ele. Linda foi com o grupo nos dois dias dos morticínios de Tate-Labianca, mas não matou ninguém e, de acusada, acabou se tornando a testemunha-chave do processo, em troca de imunidade.
Charlie, Charlie. Seu dia chegaria. Mais cedo ou mais tarde eles iriam se voltar contra você.
Jornal de Brasília - 10/2/2014