Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
Dizia Max Weber que, dentre os seguidores do líder carismático, “não existe ‘salário’ nem ‘prebenda’, vivendo os discípulos ou sequazes com o senhor em comunismo de amor ou camaradagem, a partir dos meios obtidos de fontes mecênicas”.
Ninguém da “família” de Charlie Manson, efetivamente, recebia qualquer valor. Mas não viviam de fontes mecênicas: sustentavam-se de furtos e extorsões. Dennis Wilson, baterista dos Beach Boys, foi uma das vítimas. Ele deu azar de dar carona para duas das garotas, e as levou para a casa. Elas não foram embora; ao contrário, outros é que passaram a viver por ali, e arruiná-lo financeiramente, à base de ameaças e exploração. Um inferno.
Outra coisa que a “família” fazia era pegar comida no lixo do supermercado. Eles diziam que se jogava fora muita coisa perfeitamente aproveitável. De qualquer forma, não consta que fossem grandes apreciadores dos prazeres da mesa. Pelos fotos, aparentemente ninguém estava acima do peso.
Ainda segundo Weber, os discípulos não são selecionados “segundo critérios de dependência doméstica ou pessoal, mas segundo qualidades carismáticas. Não existe ‘hierarquia’ mas somente a intervenção do líder no caso de insuficiência para determinadas tarefas”.
Na “família”, as garotas mais proeminentes eram Susan, Patricia e Leslie. Mas estavam sob as ordens de Tex nos dias da matança Tate-Labianca. Quem assumiu o controle do grupo quando Charlie foi preso foi Lynette (Squeaky), mas ele via Nancy (Brenda) como sua assassina-em-chefe.
Outro exemplo: Paul Watkins era o responsável por atrair garotas para o racho. Sua boa aparência o qualificava para captá-las quando Charlie dizia precisar de um “novo amor”. Em seu passado criminoso, Charlie fora condenado por rufianismo. No fundo, seu talento maior era o de proxeneta.
Jornal de Brasília - 17/2/2014